VOLTAS

 

(Improviso)

            Entre as flores da campina
            Correm uns certos rumores.
            Que tu, rosa purpurina,
            És a inveja das mais flores.
                              F. C. M.

      És rosa, bem vês; o aroma
      Que do teu seio rescende,
      A cor que a folha te accende,
      A inveja que ao rosto assoma
      De todas as outras flores,
      Não t'o diz, quando no prado,
      Aos primeiros resplendores
      Do sol que tem despontado,
      Ergues a fronte singela,
      Mas ah! quão graciosa e bella?!

      O lyrio que á sombra nasce,
      Quando te sente e te aspira,
      Não sabes como delira!!
      Não tens visto tanta vez
      Naquella timida face
      Redobrar a pallidez?
      E o rouxinol namorado
      Que, assim que a lua derrama
      Seu doce clarão no val
      Por entre a viçosa rama,
      Desprende a voz immortal
      Improvisando inspirado
      O seu hymno nupcial
      Á noiva que Deus lhe ha dado!

      Por quem suspira anhelante?
      Por quem trémulo se inclina
      Sobre a veia cristalina?
      Quem procura nesse instante?
      --És tu, rosa purpurina!

      És tu, sim; porém a cor
      Que tinhas tão viva outr'ora,
      Porque a vais perdendo agora?
      Dize, oh rosa, a occulta dor
      Que te faz tão tristemente
      Pender a encantada frente!

      Agora entre as outras flores
      Correm uns certos rumores...
      Quaes são, não sei; mas ouvi
      Que as mais bellas da campina
      (Por quem és tão invejada)
      Quando hoje chamam por ti,
      Dizem--rosa namorada,
      E não--rosa purpurina.

12 de Maio de 1860.
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