CANÇÃO DOS PIRATAS
Autor: Bulhão Pato on Monday, 18 February 2013
(Traduzido do Corsario de Byron) Sobre as ondas do mar azul ferrete, Sem limites são nossos pensamentos, E como as ondas nossas almas livres, Por quanto alcança a doidejante briza Cobrindo a vaga de fervente escuma Nós temos uma patria! Eis os dominios Onde fluctua o pavilhão que é nosso, Sceptro a que devem humilhar-se todos! Turbulenta e selvagem quando passa! Da lucta ao ocio em taes alternativas A vida para nós tem mil encantos! Mas estes, oh! quem póde descrevel-os? Não serás tu, escravo dos deleites, Tu, que ao ver-te no cimo inconsistente Das alterosas vagas desmaiáras! Não serás tu, vaidoso aristocráta, Educado no vicio e na opulencia, Tu que nem pódes repousar no somno, Nem achar attractivos nos prazeres. Oh! quem póde no mundo compr'endel-os? A não ser o incançavel peregrino, D'estes plainos que ficam sem vestigios; Do qual o coração affeito aos p'rigos Pula orgulhoso em delirante jubilo Quando se vê sobre o revolto abismo! Só elle présa a lucta pela lucta E espera ancioso a hora do combate. Quando o fraco esmorece apenas sente No mais profundo do agitado seio A esperança que vívida desponta E o fogo da Coragem que se accende! Não nos assusta a morte, oh! não; comtanto Que a nossos pés succumba o inimigo, E comtudo mais triste que o repouso Inda parece a morte! mas embora, Embora, oh! póde vir! ao esperál-a Vai-se exhaurindo a essencia d'esta vida; E quando ella se acaba, pouco importa! Caír pela doença, ou pela espada! Haja um ente que prese inda algum resto D'existencia senil! viva aspirando Sobre o leito da dor um ar pesado, Erguendo a custo a trémula cabeça! Para nós são as relvas florescentes! Emquanto ess'alma expira lentamente, Foge a toda a pressão d'um salto a nossa! Possa ainda ufanar-se esse cadaver, Da cova estreita e do marmoreo tumulo Que a vaidade dos seus lhe consagrára! São raras, mas sinceras, nossas lagrimas, Quando o oceano, abrindo-se, sepulta No vasto seio os nossos camaradas! Inda mesmo no meio dos banquetes Funda tristeza nos rebenta d'alma Quando a purpurea taça erguendo aos labios A memoria dos nossos corôamos. E o seu breve epithaphio é redigido, Ao por do sol do dia da batalha, Ao dividir as presas da victoria, Quando a exclamam os rudes vencedores Com a fronte anuviada de saudades: Ai, de nós! como os bravos que morreram Folgariam ditosos nesta hora! Julho de 1861.
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