EXISTENCIALISMO
EXISTENCIALISMO
Tem…
A rua tem carros que passam
Ronronam,
Apitam,
Carros que vêm e vão.
Tem…
O passeio,
As pessoas que se cruzam,
Talvez todos os dias,
E desconhecem.
Tem paralelos…
Tem a ideia rua e
É rua…
Tem a humidade e o frio
Dos corações quentes e secos
Das pessoas que a calcetam
Elas são os paralelos,
Secos e alinhados,
Talvez somados,
Divididos
E encostados
Que são a rua?
E são os corações
Somados,
Divididos,
Corações encostados
Que fazem a rua?
Sem Olá
Sem Bom-Dia
Sem o calor dos homens
Que pastam,
Mesmo que passem,
Nos paralelos
Que a rua tem…
Hoje
A rua tem,
Amanhã terá
Ontem teve
O ser…
Como eu o tenho, e sou a rua…
Mas eu não passo na rua
No entanto, estou na rua,
E a janela tem vidros.
Tudo é mentira,
A rua não tem paralelos,
Não tem passeios,
Não tem pessoas…
A rua são,
Os paralelos,
Os passeios,
E as pessoas.
Eu também sou rua.
Viro-me.
Deixo a janela.
Os carros passam,
Mas já não são carros,
São o fundo
Do barulho
Do tagarelar
Da máquina de escrever que está na secretária.
A rua está longe, muito longe…
Talvez Além Mar
Para onde o mano mais velho
Lembra… (Talvez lembre),
O amor que tem.
O carro apita,
A campainha toca.
Fim de frase,
Ponto,
Nova linha,
Espaço… (rua)
Outra linha;
Não há linha.
Que treta é essa, sou eu a escrever…
Pronto,
Dobra,
Envelope,
Correio,
Volto a casa.
Eu levei a carta
E giro o puxador da porta.
Falhou a água quente
Aii!!!
(Que frio) !!! A rua,
Estou a tomar banho,
Oh mulher,
Podes chegar-me a toalha.
(Orlando Martins)