Há muitos e muitos anos
Onde no céu moravam muitas estrelas cadentes
Existia no sul da Austrália um castelo
Banhado por um lago dourado de águas transparentes
Cercado por gigantescos eucaliptos
Coberto por verdes planícies
Numa disputa desigual com as ervas-de-canguru.
Igualmente forrados pelo tapete de capim-açú.
Pôr ali correm velozes marsupiais
Tripudiando das extensas culturas de trigo
Dormem na maciez das bolas de algodão
Que pelo vento se espalha pelo chão.
Da mais alta torre
Todas as manhãs a menina aparece
Inundando-lhe o coração
Os raios de sol dá-lhe a mão.
Escalam as montanhas azuis
Mergulham no lago saudando o peixe-arqueiro
Sobrevoam nos Alpes como aves-do-paraíso
E sonolenta repousa teus pensamentos no algodoeiro.
Como sempre as camareiras lhe assediam
E num requinte primoroso
A pequena figura ornamenta
Tirando-a de tão merecido devaneio.
No cristalino espelho emoldurado em ouro
Reflete o sonho de cada criança do logradouro
Divagando numa eterna proeza o desejo de ser princesa.
Na aldeia vizinha todos tinham que agradar o rei
Presenteavam a pequena princesa
Como se fosse regido em lei.
Certo dia um pescador
Tendo sua filha doente
Foi até ao castelo do rei
Pedir que lhe tirassem tamanha dor.
Foram chamados os doutores em ervas medicinais
Pôr uma semana ela ficaria no castelo
Também aconselhados pelos magos espirituais
Cumprindo o desejo do rei e do pescador o apelo.
Ao dar permissão
A rainha impôs uma condição
Que a princesa não teria conhecimento
Da hospede que já tinha seu consentimento.
Após três dias em teu quarto
A menina pediu a camareira
Que intercedesse junto ao mago
Para que deixasse todo aquele aparato.
Trouxeram-lhe brinquedos
Que apenas entretinham-na alguns minutos
Guardava a saudade em segredo
De teu mundo diminuto.
Numa noite de lua cheia de adornos
A menina chegou à janela
Cantou teus sonhos num culto adoniano
Onde água e lua num rajado de prata mescla.
Transpondo largas paredes
Desabrochava na princesa
O sentimento mais belo.
Sem fazer muita bulha
Saindo de seus aposentos
Corredor, escadaria como muralha
Separavam-na de tão doce contentamento.
Abrindo a pesada porta
Deslumbrou-se com a figura da menina
Junto ao peitoril da janela
Cantando seu lamento de melancolia.
Como em um transe afetivo
Abraçaram-se na escuridão
Dois corações sensitivos
Unidas pela canção.
Conversaram a meia voz por longo tempo
Até que rumor do novo dia se espalhava
Fazendo a princesa voltar aos teus aposentos
O sol se infiltrava numa amizade que iniciava.
Tendo o prazo estabelecido chegado ao fim
Os magos mandaram chamar o pescador
Para sua filha já curada buscar
E no teu pequeno mundo reinar.
A princesa buscou abrigo
Na lembrança de momentos escondidos
Em que a amiga com carinho
Contava-lhe sobre um mundo desconhecido.
Onde do outro lado do lago
A beleza contrasta com a pobreza
A amizade como um soldado aliado
Os pescadores possuem como maior grandeza.
Nas pessoas que saúdam a vida com meiguice
Nos peixinhos de fome incessante
As loucas corridas de marsupiais na planície
Nos pássaros de vôos rasantes no arrozal das vazantes.
Como um grande segredo
Um pote de recordações como se fossem jóias
A princesa guardava com esmero
Para não se perderem com o tempo.
Passados alguns meses
O pescador deu a sua filha
Uma ostra como presente
Contendo uma pequena pérola reluzente.
No castelo ao anoitecer
A princesa com seu pote de joias
Na aldeia a menina
Abria a concha e a pérola mirava
Seus sentimentos mais puros confessavam!