harmonia de superfície

sai dessa toca
	toada reprimida
	que te oprime e sufoca
	essa vontade atrevida
	tão sã e tão louca
	esquece essa norma
	que te apouca
	rompe essa forma
	que te molda a vida
	e arrisca sem receio
	a virtude conseguida
	não está no meio
	e sim na saída
	rebenta esse freio
	essa relutância ferida
	de morder o arreio
	e te doer a mordida
	se a miséria se acentua
	desconfia da esmola
	aquele que promete a lua
	pode ser quem te esfola
	o mesmo que insinua
	que não és bom da tola
	vangloriando-se na rua
	que te deu a camisola
	desmascara o cinismo
	sacode o marasmo
	do falso humanismo
	pleno de sarcasmo
	monstruoso mecanismo
	que t'incrimina pelo orgasmo
	proscrito pelo catecismo
	foge dessa gaiola
	esquece essa gente
	e nunca baixes a bola
	para quem te mente
	não vem mal ao mundo
	quando te aventuras
	fugir desse nauseabundo
	covil de criaturas
	que te quer moribundo
	atolado em conjuras
	porque tu és vagabundo
	e elas são muito puras
	bardamerda prá teoria
	assente em presunção
	duma falsa supremacia
	que não passa de ficção
	obscena falácia
	sem justificação
	sai vai cai e levanta-te
	dança avança e descansa
	canta olha ri e sonha
	grita acredita incita e agita
	esta harmonia de superfície
vicsoares