EM UM RETRATO
Autor: Camilo Pessanha on Wednesday, 9 January 2013
De sob o cómoro quadrangular Da terra fresca que me ha-de inhumar, E depois de já muito ter chovido, Quando a herva alastrar com o olvido, Ainda, amigo, o mesmo meu olhar Ha-de ir humilde, atravessando o mar, Envolver-te de preito enternecido, Como o de um pobre cão agradecido. Voz debil que passas, Que humilima gemes Não sei que desgraças... Dir-se-hia que pedes. Dir-se-hia que tremes, Unida ás paredes, Se vens, ás escuras, Confiar-me ao ouvido Não sei que amarguras... Suspiras ou fallas? Porque é o gemido, O sopro que exhalas? Dir-se-hia que rezas. Murmuras baixinho Não sei que tristezas... --Ser teu companheiro? Não sei o caminho. Eu sou estrangeiro. --Passados amores?-- Animas-te, dizes Não sei que terrores... Fraquinha, deliras. --Projectos felizes?-- Suspiras. Expiras. Na cadeia os bandidos presos! O seu ar de contemplativos! Que é das feras de olhos acesos?! Pobres dos seus olhos captivos. Passeiam mudos entre as grades, Parecem peixes n'um aquario. --Campo florido das Saudades Porque rebentas tumultuario? Serenos... Serenos... Serenos... Trouxe-os algemados a escolta. --Extranha taça de venenos Meu coração sempre em revolta. Coração, quietinho... quietinho... Porque te insurges e blasfemas? Pschiu... Não batas... De vagarinho... Olha os soldados, as algemas!
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