Balfusca (Floresta Encantada)
Balfusca (Floresta Encantada)
Parece que já vivi duas vidas muito diferentes, a do campo e a da cidade, a de miúdo e a de adulto.
Lembro-me da primeira, ainda consigo ver os pequenos caminhos que nos levavam aos ribeiros, aos poços, às searas e às florestas.
A casa da minha avó ficava junto a um ribeiro e a uma pequena floresta. Podia pescar pequenos peixes, enguias e por vezes solhas de água doce, podia nadar, mergulhar de cima de uma nespereira e caminhar na rua dos buchos.
Por vezes ia até à balfusca, uma floresta muito densa com acácias, pinheiros e choupos. Na balfusca existia uma velha acácia, era enorme mas podia trepa-la até ao cume sem qualquer dificuldade, os seus ramos eram como escadas.
Lá do alto via o meu mundo… a Ribeira, as Fontainhas, o Porto Lúzio, o Cabral, a Vala… também podia ver garças brancas, gaios, pegas rabudas, águias de asa redonda, peneireiros…
Com o aproximar da noite sentia o cheiro das raposas que iniciavam as suas caçadas.
Nessa altura caminhava lentamente para casa na esperança de ver mais bichos.
Chegava ao largo da quinta ao por do sol, exatamente no meio ainda existe a enorme tília, em frente ficava um lago rodeado de canas da Índia, o lago da azenha.
Nesse momento chegavam centenas de pardais que chilreavam sincronizadamente, hora fazendo muito barulho, ora calando-se repentinamente, era um ritual mágico com hora marcada.
Ficava ali parado… extasiado… sonhando e ouvindo os pássaros até a minha avó me chamar para jantar.
MS
11:48
18/04/2018
Condeixa