O sino da igreja

O SINO DA IGREJA
MENINO; VENHA POR SUA ROUPA, NÃO QUERO CHEGAR ATRASADA NA IGREJA, SAIA LOGO DESSE BANHEIRO!
ERAM ESSES OS GRITOS DA MINHA MÃE AOS DOMINGOS ANTES DAS DEZOITO HORAS, GERALMENTE.
É MEUS AMIGOS, CHEGOU O GRANDE DIA DE DOMINGO; AQUELE QUE EU, TEIMOSO, INSISTO EM NÃO ESQUECER.
O FIM DE TARDE TA CHEGANDO NOVAMENTE; NA SALA MEU PAI ASISTE A TV DESPREOCUPADO E ACHO QUE FELIZ PORQUE NÃO IRIA A IGREJA; JÁ EU, AOS MEUS QUASE SEIS ANOS JUNTAMENTE COM MEUS DOIS IRMÃOS TÍNHAMOS A MISSÃO PERPÉTUA DE IR A IGREJA, NÃO IMPORTAVA SE EU ESTIVESSE COM UMA DOR DE DENTE FORTE OU ATÉ MESMO UMA DOR DE BARRIGA PESADA, NADA DISSO ERA IMPORTANTE, TÍNHAMOS QUE SEGUIR A RISCA O DESEJO DA MINHA MÃE, DE COMPARECER A IGREJA.
BOM; VOLTANDO AO DIA “D” DE DOMINGO; MEU PAI CONTINUAVA CONFORTÁVEL NO SOFÁ VENDO OS TRAPALHÕES, AO SEU LADO ESTAVA A BENDITA CADEIRA DE BALANÇO; LOCAL QUE EU FUI ARRANCADO NO TAPA E DE TOALHA, PARA POR MINHA BOTA MARROM COM APARÊNCIA E TAMANHO DA BOTA DE UM BEBÊ. É SÉRIO! MINHA MÃE PASSAVA ÓLEO NOS CANTOS DELA E ENFIAVA MEUS CALCANHARES COM O APOIO CARINHOSO DE UM GARFO; EU SEI QUE VOCÊS SABEM QUE MAIS ALGUÉM NESSE MUNDO DEVE TER PASSADO POR ISSO.
TODOS DEVIDAMENTE PRONTOS E ARRUMADOS; FOMOS A IGREJA; TEMPO VAI TEMPO VEM, CONSEGUI FUGIR DA SAIA DA MINHA MÃE; SEM QUERER E SEM SABER POR QUE, ACABEI INDO PARAR LÁ NO ALTO DA TORRE DO SINO; ESTÁVAMOS EU E MAIS UM AMIGUINHO TAMBÉM DESGARRADO DA MÃE QUE EU ACABARÁ DE CONHECER. ENTÃO; APÓS FICAR UM TEMPO APRECIANDO A VISTA DA CIDADE; ME SENTI NO DIREITO DE TOCAR O SINO, JÁ QUE ELE ESTAVA ALI DE BOBEIRA. CLARO QUE A MINHA INTENÇÃO ERA APENAS BRINCAR, ATÉ ONDE EU ME LEMBRO!
POIS É MEUS QUERIDOS AMIGOS, EU TOQUEI AQUELE BENDITO SINO E NÃO CONTENTE PULEI NELE E FIQUEI INDO PRA LÁ E PRA CÁ; FOI MUITO DIVERTIDO!
PENA QUE EU FIZ SEM MALDADE, A MISSA ACABAR PELO MENOS QUARENTA E CINCO MINUTOS ANTES DO HORÁRIO NORMAL.
RAPAZ! NA HORA QUE ME PEGARAM LÁ EM CIMA DA TORRE E ME ENTREGARAM NAS MÃOS DA MINHA MÃE NO MEIO DA MULTIDÃO QUE ME RECEBEU COM APLAUSOS E SORRISOS; EU JURO QUE NAQUELE MOMENTO APRENDI A REZAR FEITO UM CONDENADO, EU CHAMEI PELO NOME DE TODOS OS SANTOS, ATÉ DOS QUE NÃO EXISTIAM; MAIS NÃO DEU CERTO; QUANDO CHEGAMOS EM CASA, MEU AMIGO! FOI NESSE DIA QUE EU DESCOBRI A DESCENDÊNCIA DA MINHA MÃE; PORQUE ELA ESTAVA TÃO VERMELHA E COM UMA MISTURA BEM TEMPERADA DE RAIVA E VERGONHA, QUE PARECIA UMA HOLANDESA NOS SEUS MELHORES DIAS DE PRAIA EM COPACABANA.
AQUELA NOITE DE DOMINGO FOI INESQUECÍVEL TANTO PARA MIM, QUANTO PARA OS VIZINHOS, DEVIDO AO BARULHO DE QUASE UMA HORA DA MINHA SANTA SEIA; NÃO!
QUERO DIZER; DA MINHA SANTA SURRA.
 
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