“HOJE FECHEI O SCHENGEN”
“HOJE FECHEI O SCHENGEN”
Não podia faltar ao convite endossado pelo engenheiro e escritor António José Alçada, ao lançamento da 2ª Edição do seu livro que encabeça esta crónica, a décima obra do autor.
O local não podia ter sido melhor, o Auditório Júlio Cardona, no edifício emblemático da Banda da Covilhã, no Largo de S. Francisco. O belíssimo edifício centenário já foi escola primária, biblioteca, como testemunham inúmeros livros arquivados em diversas estantes e a revestir as paredes. Também ali funciona um restaurante, a sede da Banda e a respectiva Escola de Música.
O Presidente, Prof. José Eduardo Cavaco, além dos trabalhos da ornamentação da sala, apresentou o programa.
O Aluno da Escola de Música, Jimi Hamilton, tocou o tema “dwasinais”, em fagote, dando início à Sessão Literária. Coube a tarefa da apresentação a Rita Alçada Castelo-Branco do livro “HOJE FECHEI O SCHENGEN.” Esta obra é uma viagem no tempo de uma Europa repleta de fronteiras e batalhas.
Nos tempos actuais seria impensável, mas é importante, é bom fazer uma reflexão sobre os movimentos radicais que vão surgindo. Têm-se verificado perseguições a minorias e os movimentos dos refugiados não têm fim à vista.
O Escritor António José Alçada é um contador de histórias em que os valores éticos, ambientais assentam no ser e nunca no ter. A própria família é exemplo, quando recebeu em casa de familiares um refugiado da Segunda Guerra Mundial, com o qual ainda existem laços de proximidade. Vemos todos os dias milhares de refugiados que fogem à fome, à guerra, em que as portas estão muito trancadas, com uma ou outra excepção, como no recente caso do Fundão.
O autor do livro, encarnando a pessoa da principal personagem, relata a odisseia de um diplomata, incumbido pelo Chefe do Governo da época, para uma missão importante em carta lacrada. Era necessário ir salvar um jovem de treze anos, um jovem cheio de talentos de origem judaica em Viena – Áustria, na altura sob domínio nazi. Era necessário encontrar, ou abrir, caminhos para ajudar a salvar este adolescente.
Portugal, por paradoxal que pareça, consegue firmar, em 1940, um acordo com a Santa Sé, um documento que regulamentou durante muitos anos as relações do Vaticano com a República Portuguesa. Fiquei também a saber que Portugal era um dos únicos países que tinha uma embaixada em operação no Vaticano durante o período da Segunda Grande Guerra, sendo a representação diplomática mais importante que tinha na «zona do Eixo».
O nosso diplomata, apesar de uma missão arriscada, tem de atravessar jogos de poder, de diplomacias, de vicissitudes, com o objetivo de salvar o jovem judeu, talentoso, enquanto os pais seguiram o caminho dos campos de concentração nazi.
À margem da apresentação do livro, a assídua leitora do autor, Maria do Céu, residente em Sintra, afirmava-me: “os livros do Alçada são muito baseados em factos reais. São histórias que se lêem com encanto, muito suaves e leves, mas deixam-nos muitas mensagens que nos obrigam a meditar e a pensar.”
História muito actual quando por diversas vias nos chegam testemunhos diários de gentes que deixaram famílias, residências, empregos e convívios para fugir a perseguições ideológicas, às guerras, à fome, à doença, por pertencerem a minorias étnicas. Temos de ter consciência destas realidades, conhecê-las melhor e desenvolver maiores sensibilidades, o que já vai acontecendo quando alguns municípios vão recebendo refugiados.
Enquanto a fotógrafa de serviço, Carolina Rodrigues, fazia os últimos flaches e se ouviam os sons do acordeão da Matilde Rodrigues, que acabou por encerrar a sessão, ia refletindo nas palavras do escritor António José Alçada: «este espaço que nos une, aberto, se voltar a fechar, a nossa vida vai ficar muito mais complicada».
Quem quiser saber mais sobre esta história real é percorrer os onze capítulos, e saberá o fim feliz desta odisseia.
António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes