Sonhos de dez anos

Condenaram minha culpa confessa

Cavalgar nas pedras de solidões de pernas machucadas

Corações divididos em lençóis sistemáticos
Do que foge a conta

Veio-me nesta manhã uma tormenta,
Pulsos jorravam sangue impuro
E sem glória,
No regar das flores brancas do jardim
Que tu plantaste
Em estercos incomíveis de sarampo.

Oriente minhas mãos que eram nortes
Oriente meus monstros que eram...
Nada mais
Nada menos
Que gotas leves no sacrifício da dor do estorvo.

Madrinhas e garrafas vazias
Todos os demônios, todas as solas de sapatos
Perdidos no imenso ombro de verão

Minha prisão são todos os papéis de aço
Construo as grades dos gritos
Com letras do ferro vestido da Dama,
Estou emparedado com mil oficiais
Ansiosos para fuzilarem-me
Há piedades perdidas no abraço da mãe

Escondi-me na copa daquela árvore
Por sonhos de dez anos

Havia puberdade e miados de gatos
Esfinge de saracura
E corujas do medo;
Lagos em noite de morfina
E defuntos vivos
Nóbeis de dinheiro
E silhuetas azuis.
Havia um arcanjo belo e feminino
A ludibriar todos os deuses do mundo,
Havia o amor
Também o ódio.

Pobre criatura voando nas areias do deserto
Pobre deserto com areias tristes
No universo que não existe o amor

No fim do dia tudo morre e oculta
Tudo é cadáver
A ressuscitar

Cuspi na erva de bizarro medo
Com segredos do amanhecer
Confidentes das trevas.

Quantas vezes vi e ouvi dos cabelos loucos
De meu sonho
E Nossa Senhora chorando num copo vazio...
Quantas vezes observei os cavalos de mistérios
E os índios dos cultos.

Restou-me apenas a mata amaldiçoada
E os anões em jangadas forçadas
Por pirilampos,
Grilos e outros
Do curioso

Resta-me nesta hora o tempo
Permanecente manco
Na causa de risadas alheias

Abri as malas do velho pai de meu pai
Que não conheci

Charuto molho
Personificação da imagem
Em amém e Ave Maria
Adeus do medo
Deus do mourão
Arame de farpa que severamente
O morto o mato enterrou
Na sepultura que me amedronta

Olhos de lanterna com caveiras de pena
Não fomos ao mar
Para lembrar dos rios
Sem querer sem se desculpar com medo
O vendi em furnas e fumaças
Achei-me em lago com boca seca
Nos dormentes trilhos
Dos trens da meia-noite
De meus assopros

Pulas a poça e desconfias do acaso
Amanhece ao lado de deus
A não pedir perdão
Pra masturbar-se no demônio vestido de prostituta
Mesmo assim...
Havia o fundo que desconhecia

Novamente!
Outramente!
Gladio-me nesta arena que enganou-me
Nos focinhos dos leões
Com rostos delicados
Atrás do severo velório meu

Vejas-me assim!
Se podes
Do jeito que tentas
Do jeito que engoles-me

Com escarros longe das tribos nas danças
Que souberam-me guiar.
Já usei tantas que não quis
Só que por isso não sabia qual era

Só sei que escrevo
No outro papel que sou-me

Um A
Um N
Outro A
Nas trincas falantes
Da cerimônia não nascerá mais

Perder todas as barcas
Nos oceanos que foram somente sonhos

Se me queres e me amas
Não me deixes como o nada que canto e que amo

Meu rio
Meu traje
Meu bem

Quantos caminhos tortuosos
Com semblantes após trilhos
Do ônibus que agarrei
Na forma disfarçada
Verso estelar
Todos furos sozinhos

Visão da velocidade
Imagem intocável do curioso,
Secou todos os verões
As corujas goram
Fazem sexo com meus colares de perda rara
Na riqueza conhecida somente a mim.

Milênios são continentes
No acidente outro xamã índio
Caído doce nas costas do nariz que escorre chãos do cosmo
Permanente bebê.

Infante da velhice
Viagem outrora boa.
Janela com vidro de visão e círculo de fogo
No anel da lua e da bica
Cruz de Jesus
Azulejo de mel
Rosto ao alto
Invisível que não aparece
Roubo do barulho
Ignição suplício

A rede no respiro
Foi-se com o vento
Traje negro bem vestido no olhar
Olheiro da multidão

Só que querer ser algo
Algo é querido
Quando vindo
Como dúvida dos lábios no encanto de beijos

Caminhei tão tonto e tortuoso.
Há várias viagens que não conhecem doses

Voltou-me nesta seca sua vagina úmida
Nos dias brilhantes de umas horas

Na treva polar
Cachorros são pretorianos de portões do insulto

O diabo veio com identidade de rio

O fogo da isca – adágio misturou-se ao papel demente
Na pira das flores que se abrem nas chuvas
Dos cavaleiros soltos na tempestade
Bússolas perdidas
Esquecidas
Sem nortes nem suis
Surras de pais e mães nos céus com nuvens sangrentas

Naquela pesca onde nasci
Cobri-me com rubras brasas de carvões eternos
Uma flor criou-se bela no fim do mundo.
Foi-se os homens com escudos e espadas de bravuras,
Era um livro dos mais belos sofridos
Era o corpo desejado que não tine
Era barca da bela dama que amanhece
Noutros mares de minha vida
Com veias visíveis de meu corpo de faz-de-conta

Aqueles mundos acordam cada vez que respiro
Já que sou criança a ondular em seu braço

Sobrou-me o que se fecha
O que se abre
O que se dorme
O que se acorda

Todos os pingos em vidraças dão-se vidas

Do que são feitos os meus irmãos e pais
Se do cigarro vejo da montanha em belas curvas
Do que são esculpidos meus bronzes
Se duro são os meus tesouros
Espanhóis perdidos

O mundo é um acordar cada vez que respiro

Mourões são catástrofes de milagres
Com nome de Ana da cascata escondida
Nas águas que descem
Suicídio
Pelas inexplicáveis borboletas piporeadas do perdido

Quem te libertou das bravas águas e pedras
Quem!
Por amém
Enciumou-se quando quis-me morte?

Meu pobre teatro com cortinas lacradas
Costurado em tecidos de palcos carnais.
Fui forte quando quis e imaginei o pó brisa
Eternamente “ilusei-me” ela cavalgando
As planícies que fui incapaz

Senti-me suave quando te vi enrolada
No cobertor de valsas para mim.
Eterno permanecia
Atento adormeci tranqüilo no sereno duma infinita valsa
Quis minha mãe como doce
Que impossivelmente fui incapaz de experimentar.
Não arrombei aquela prisão de vitrine azul
Em frio ferro de faces vitrines azuis.

Os longos cabelos são raras mãos da sensualidade
Universos olhos no encontro do amante
Do delicado além.

Campeão acorrentado em pálpebras fechadas
Para hora perdida

Quem te era as garoas das memórias que desconheci
Penduradas pelos joelhos no penhasco sublime das camas macias

Ana! Louva deus que explica a palavra não conhecida do mundo,
Que explica claro com quem se manifesta o universo amadurecido
Dum piar de gato corrupto na almofada do proibido.
Chupei-a tão como tremulantes roseiras noturnas.

Vulnerável
Permita o toque de seus não conhecidos perfumes
Ah! Que pétalas de rostos aparecidas dos orvalhos do dia
Em seu embebido cedo.
Alimentei-me de todo o seu ilimitado pólen
Perante a eterna tinta da noite.
Arranjei-me nos seus abraços acordados no sono.
Quem se desliga quando se diz adeus
Com lábios próximos da bíblia sem voz?
Quem escreve com letra que ainda não foram paridas,
Que ainda não é sangue em veia faminta,
Que ainda não é força sem sombra,
Que ainda não é não na dobra do experimentar?

Despiu-se nu soletrado na calça
Ansiosa pelo molhado da chuva.

Nossos vilarejos foram encontrados em outros dois mils

A máscara é uma pele que sente e chora
Em simples desesperos de quem acorda
Em cinco horas puras e escuras.

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