Gazel da Lembrança de Amor

Tua lembrança não leves. 

Deixa-a sozinha em meu peito, 



tremor de alva cerejeira 

no martírio de janeiro. 



Dos que morreram separa-me 

um muro de sonhos maus. 



Dou pena de lírio fresco 

para um coração de gesso. 



A noite inteira, no horto, 

meus olhos, como dois cães. 



A noite inteira, correndo 

os marmelos de veneno. 



Algumas vezes o vento 

uma tulipa é de medo, 



é uma tulipa enferma 

a madrugada de inverno. 



Um muro de sonhos maus 

me afasta dos que morreram. 



A névoa cobre em silêncio 

o vale gris de teu corpo. 



Pelo arco do encontro 

a cicuta está crescendo. 



Mas deixa tua lembrança, 

deixa-a sozinha em meu peito. 

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