Reflexo

Olhando o espelho já não sei mais o que reflete.

Espelho refletindo alguém que não sou eu. Não pensei isso, não permiti toda essa trajetória, nem as linhas dos poemas intermináveis. Quem é este sujeito que da carne de aço fatia os sentimentos dos semelhantes? O homem do espaço que voa sob as estrelas como gaivota sem rumo? A sombra de teu reflexo é ele, literalmente ele, porque travestido de negrume não existe essência, como não há forma sem ideia, como não há espelho sem reflexo.

Como isso veio parar aqui, invadiu minha residência e perscrutou minha jornada. Todos os monólogos perdidos a esmo, como um fluxo de pensamento leviano. Oh! Céus, por que fitas minhas retinas com esses teus olhos degredos? Soa como uma corda de violino arrebentada no teu pior concerto, tornaste o ruído dos meus tímpanos; a Antígona de um povo sofrido. Debruce seu corpo no solo dos ratos e zarpe para longe. Persona non grata que fervelha a ira de um jeito sereno, é melhor minha escrupulosa atitude te expulsar daqui.

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