POEMA SOB O REFLEXO DA TOMADA DE CONSCIÊNCIA
venho tentando aos poucos
fazer qualquer coisa assim:
erguer um jardim sem flores
descrever um panorama sem cores
resolver que uma resistência natural
ao mofo das coisas passadas
não passa de crença
sem fundamento
do que não retive em minha mente
pelo sobressalto do medo
de não obter uma resposta coerente
com meus dogmas e escolhas
venho tentando aos poucos
conceber poéticas originais
que me pareçam entretanto normais
sem traumas e controvérsias
sem intrigas e brigas
que se propaguem
por completo...
e que as entenda e conceba-as
sem ambiguidades
absorvidas em sua natureza
simplificada
venho tentando aos poucos
tentando sempre outra vez mais
ser diferente e ciente
crente em não cair diante
do abismo
a que possa me sujeitar:
minha cabeça caída no chão
-pendente
correndo o risco de se perder
no fio da meada embolada
e para não ser patético demais
não me resignarei
(como um sultão deposto
e sem harém)
diante de minhas carências reprimidas
para que depois não me indaguem
sobre o sono na garganta débil
sobre o nó desatado /desfeito
que me prendia:
refém do nada e do ninguém