Ventania das sombras

Sendo o vento em desvairo, eu caminho em todos os lugares, locais principalmente ocultos. Vejo a sombra dos humanos os perseguindo. Todos têm algo a esconder, todavia, do meu sopro, tudo se esvai. Caminho entre os caminhões armazenando concreto. Quem dera se eles se chocassem; não literalmente, mas entre segredos. Imagine só o quanto os blocos excruciariam na cara. Quanto sangue seria derramado; seria como um mar onde apenas o horizonte é livre, ao toque da vermelha verdade.

Percebo minhas colegas batendo as asas com a minha chegada; as árvores aparentam sentir frio. Contorcem as folhas das brumas secas. Será que até elas escondem algo? Tanto faz, hoje em dia os humanos detêm minha total atenção. É intrigante contemplar o fato de muitos me terem e outros, me recebem com secura. Enquanto alguns exaurem ao sufocar, seja a si ou outrem, outros me amam meditando.

A dualidade do homem é o que jubila: tem tudo, mas lamenta em nada ter. O meu existir, por exemplo, faz a música que é essencial à alma, mas também faz o tornado destrinchar o que há. É isso: a sombra do ar é seu próprio vento. A quem devo questionar? Se existo onipresente... sendo nadificante ausente?

 

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