Ela existe

Naquele largo ensolarado e frio, o crepitar da vida ouve-se com uma sonoridade diferente: a vida mecânica sobrepôs-se à biodiversidade. Os pássaros foram substituídos pelo rosnar dos aviões que voam baixinho o suficiente para sentir a vibração do cinzeiro e da mesa metálica desta esplanada que enfrenta em tom de irónica provocação aqueles que evitam o contacto com o tabaco.
 
Dali consegui vislumbrar, no alto do instituto, um relógio que em numeração romana marca as horas para que ninguém olvide aquilo que temos de mais importante: a vida, a esperança, a cura.
 
Foi a primeira vez que ali entrei. Assusta, sabem? Ninguém ousa pensar em entrar num sítio assim. É aquele estigma “cujo nome não queremos vociferar”. Uns cabisbaixos e frágeis, outros tantos convictos que a sua força está na fragilidade.
 
Ninguém quer. Ninguém aceita. Mas o medo da dor, da solidão, o medo da inexistência supera qualquer réstia de negação que ainda pudesse existir. É aqui que se reúnem almas carentes de consolo, carentes de olhares empáticos. 
 
Fitam-se caras envergonhadas na esperança de a encontrar no outro. 
 
Esperar é ter esperança e assim permanecerá enquanto houver olhares que se cruzam. 
 
Ela existe!
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