(Vida de Escritor)
Um escritor vive mil vidas numa só:
vidas inventadas, vidas pressentidas,
mas também as que são realmente vividas.
Todas as vidas que lhe passam por perto
são um pouco suas, quando as passa para o papel.
Tocam-lhe a alma, as vidas com que se cruza,
ainda que lhes pareça indiferente.
Sofre as dores de cada ser a quem dá vida numa história.
Ganha-lhes amor, como se de filhos se tratassem,
enquanto lhes traça impiedosamente o destino.
Refaz-lhes a vida uma e outra vez, sem pena nem remorsos,
até que para si, aquelas vidas façam sentido.
Adormece e acorda envolto nas suas histórias
até lhes achar o final perfeito.
E quando finalmente acaba, fica a exaustão nostálgica
de quem se entregou por inteiro,
até que outras vidas e outras histórias
venham povoar os seus dias.
In: Formas de Sentir