CHOMSKY, Noam - Filósofos Modernos e Contemporâneos
CHOMSKY, Noam
1928
(Adendo, a diferença entre Ética e Moral).
Se escolhermos, poderemos viver em um Mundo de reconfortante ilusão.
Nascido em uma família judia multilíngue, CHOMSKY estudou Matemática, Filosofia e Linguística na universidade da Pensilvânia, EUA, onde escreveu sua inovadora tese sobre Linguística e Filosofia que lhe assegurou a celebridade ainda em vida, fato raro entre os intelectuais.
Intitulada de “Estruturas Sintáticas”, a obra escrita em 1957 colocou-o entre os grandes linguistas e ao revolucionar os estudos nessa área contribuiu efetivamente para o avanço da matéria.
Mas, o talento e o dinamismo de CHOMSKY não se restringiram aos aspectos teórico, ou acadêmico e por isso, ao oficio de professor, ele agregou uma vigorosa militância política e se tornou um pacifista de escol, sobretudo em relação à “Guerra do Vietnã”.
Sua crítica pertinaz ao conflito levou-o a escrever “A Responsabilidade dos Intelectuais”, em 1967, que se tornou um símbolo de contundente censura à Cultura e à intelectualidade estadunidense.
Atualmente o filósofo se dedica a escrever e a proferir palestras sobre Linguística, Filosofia e Relações Internacionais.
O Ideário
Embora seja mais conhecido por sua lida no campo da Linguística, pode-se afirmar que a importância de seu pensamento vai muito além de uma só vertente do saber.
Seu ideário é uma contribuição efetiva ao “Conhecimento Humano” e redime em alguma medida a estreiteza do “pensar filosófico” dos EUA.
CHOMSKY trabalhou, principalmente, na análise do Poder e da Política e do seu labor, resultaram as seguintes observações:
- Se supusermos que o “nosso Governo (o dos EUA)” é naturalmente mais ético do que outros governos, fica claro que escolhemos viver em um Mundo de “ilusão reconfortante”, por mais tola que seja essa opção.
- Assim sendo, para rompermos com essa tola “ilusão reconfortante” será necessário analisar com toda honestidade possível, os atos do “nosso Governo”.
- Ou melhor, examinar os atos que realmente são praticados pelo “nosso Governo”.
- Depois, exigir do “nosso próprio Governo” os mesmos “princípios éticos” que recomendamos, ou que cobramos de outros Governos.
Como ilustração dessa tese de CHOMSKY vale recordar o episódio acontecido aqui no Brasil, há pouco tempo:
Um “funcionário público” dos Estados Unidos da América, em visita ao país, “aconselhou” as autoridades brasileiras a serem mais “responsáveis” e terem “mais seriedade” e “rigor na fiscalização” contra as fraudes ocorridas no terreno das finanças e, mormente, na Bolsa de Valores.
Mas, por infeliz coincidência, no dia seguinte ao de sua fala (feita, aliás, com a insolência e arrogância que caracterizam alguns setores estadunidenses), ocorreu à falência fraudulenta da Empresa “Eron”, gigante estadunidense, que vinha cometendo toda sorte de falcatruas ao longo de vários anos sem ter sido incomodada, ou fiscalizada, ou punida com rigor e seriedade pelas autoridades estadunidenses.
O triste conluio de malfeitores, de maus gestores e de funcionários corruptos ou inábeis (ou corruptos e inábeis), causou um enorme “rombo” no “Mercado de Ações” e uma série de turbulências econômicas que repercutiu vigorosamente em todos os segmentos do Mundo globalizado.
A Falsa Moralidade
Por comodismo, por insolência, por ignorância etc. não é raro que cidadãos e governantes do chamado “Primeiro Mundo” se arroguem o “direito” de censurar e cobrar os governantes e os cidadãos do dito “Terceiro Mundo”, sobre fatos e condutas que, a rigor, são tão errados e funestos quanto os símiles que ocorrem em seus próprios quintais.
Contudo, felizmente, os mesmos países que geram esses boçais, também geram filósofos como CHOMSKY, que consegue compensar com sobras as tolices dos maldosos e/ou ignorantes.
NOTA do AUTOR ao aspecto nefando de tal conduta se junta outro comportamento horrendo: cidadãos do país atingido – o Brasil no caso – dão crédito aos supostos virtuosos apenas por serem estrangeiros, ou do “Primeiro Mundo”. E, lanosamente, aceitam carapuças que não lhes são devidas. Aceitam resignadamente as máscaras de pessoas de 2ª categoria que habitam o 3º Mundo e sujeitas, portanto, a censuras e ultrajes desferidos pelos “Seres Superiores” (sic).
Na sua perene luta em prol da justiça, CHOMSKY publicou O Poder Americano e os Novos Mandarins, em 1969, onde ele reafirma não ser rara a ocorrência de incompatibilidade entre o discurso, a promessa e as ações efetivas do Estado.
Para ele, os argumentos empregados pelos governantes Não são suficientes para que os cidadãos comuns conheçam a verdade sobre o “Poder Político”.
Segundo ele, os Governos podem usar os fatos para justificarem os atos que praticaram, porém se tais alegações não forem embasadas por evidências inquestionáveis, não passarão de meras falácias, de simples ilusões.
Mas como avaliar as reais intenções e ações do Estado?
Para CHOMSKY é necessário desprezar os discursos oficiais e avançar para além da retórica.
Será sempre preciso uma investigação séria e profunda sobre a história, sobre as estruturas das Instituições (ou seja, como funcionam o Congresso, o Judiciário etc.) e sobre os documentos oficiais para que as dúvidas sejam dirimidas. Será sempre indispensável que a sociedade tenha livre acesso às evidências e comprovações sobre o que foi dito.
Desprezar a versão oficial e só aceitá-la quando as buscas paralelas a validarem, será sempre o recurso a ser empregado para desmascarar as fraudes e incompetências. Ou ambas.
Principio de Universalidade
As análises éticas de CHOMSKY originam-se naquilo que ele chama de “Principio da Universalidade”, que consiste basicamente em aplicar a nós mesmos aquilo que aplicamos (ou sugerimos, ou criticamos a falta) em outrem.
É um “Principio” simples e antigo, podendo ser encontrado inclusive nos livros religiosos. É a famosa “regra de ouro” que prega: “ama aos outros, como a ti mesmo”.
Contudo, malgrado a sua simplicidade e talvez ingenuidade, CHOMSKY defendeu-o como a pedra basilar para qualquer “Sistema de Ética” (pois o lado animal do homem é difícil de ser vencido e é ele que faz com que cada qual privilegie o seu interesse antes de qualquer outro).
Porém, a fragilidade desse ideal não se fez esperar e logo se demonstrou que o homem não hesita em utilizar o “discurso ético” para censurar aos demais, embora não o faça em relação a si próprio com a mesma intensidade e frequência.
Todavia, CHOMSKY e seguidores sempre perseveraram em defesa de tal sistemática, até mesmo por falta de alternativa que trouxesse resultados equivalentes.
Em termos de Governos, a recorrência de falsidades, hipocrisias e falcatruas deve fazer com que sempre os vejamos com muita desconfiança. E que tenhamos a máxima cautela para analisar todo fato em questão.
Devemos sempre usar a maior isenção, imparcialidade e equidade possíveis; ao invés de cedermos ao impulso cego, à retórica falaciosa, ao patriotismo rasteiro e à intenção belicista, pois tais comportamentos sórdidos são de uso comum entre os maus governantes, os tiranos e os ditadores.
Porém, para o filósofo, apenas os indivíduos que desfrutam de uma intelectualidade razoável, advinda do esforço e do estudo, são capazes de reivindicarem uma Moralidade Universal (ie, que a todos contemple), haja vista que quanto menor a capacidade de raciocínio, mais intenso será o apelo ao instinto primitivo de cada homem, que cede facilmente à manipulação dos citados maus governantes, tiranos e ditadores.
Instinto primário e irracional que busca satisfazer os interesses imediatos do sujeito, sem qualquer racionalização sobre a necessidade de se comportar com um “Ser Social”, até mesmo por questões de seu próprio interesse.
Portanto, se o homem quiser de fato ultrapassar a retórica vazia e investigar com rigor o “Jogo Político" para (re) construí-lo em bases mais justas, morais e éticas, será imprescindível o amplo acesso de todos os indivíduos à Cultura (real e verdadeira) e à Educação de qualidade, como ponto de partida para a formação de verdadeiros cidadãos.
É claro que as ideias de CHOMSKY não são unanimemente aceitas. E aquelas relativas ao “Poder Global”, em substituição os Governos regionais ou nacionais, têm suscitado calorosas discussões acerca de sua validade, mas isso não corrompe a sua ideia principal de “que os outros recebam o que almejamos para nós mesmos”.
Por essa soma de qualidades no campo da ética, da moral e da política NOAM CHOMSKY desfruta do merecido reconhecimento de que goza. À figuras como ele, a humanidade será sempre devedora da esperança de vivermos em um Mundo mais justo e pacifico.
As Obras mais importantes
- A Responsabilidade dos Intelectuais, 1967.
- O Poder Americano e os Novos Mandarins, 1969.
- 11 de Setembro, 2001. Estados Fracassados: o abuso do Poder e o ataque à Democracia.
ADENDO – Moral e Ética.
Embora as palavras: “Ética” e “Moral” sejam usadas, na maioria das vezes, como se fossem sinônimas, ambas significam coisas diferentes, embora aproximadas. Para evitarmos erros de apreensão será oportuno defini-las com clareza:
Ética – são Normas Singulares ou Individuais, ou um conjunto delas que cada pessoa adota para balizar seu comportamento em relação ao próximo, sem que haja necessidade de alguma Lei que o obrigue a agir de tal modo. O individuo segue essas normas próprias por acreditar que são corretas e que se não as praticar sofrerá um doloroso arrependimento, ou, como se diz, “ficará com a consciência pesada”. Sofrerá um castigo de foro íntimo, mesmo sem o concurso de Leis, Processos, Cadeia etc.
Exemplo – um indivíduo devolve a carteira que outrem deixou cair. Assim procedeu apenas por que quis, sem que outra pessoa, ou regra, o obrigasse à devolução. Esse, pois, é o Comportamento Ético.
A discussão sobre a origem e natureza desse comportamento, se é genético, congênito, hereditário, formado pela religião, pela educação familiar etc. não será abordada aqui, por fugir ao escopo desse Ensaio.
Moral – são as Normas Sociais, ou seja, o conjunto de regras pré-estabelecido pelo agrupamento social que as cumpri mesmo sem aceitá-las, por temer o castigo que advirá pelo não acatamento.
Exemplo – ter apenas um cônjuge, em sociedades que não admitem o casamento poligâmico é um Comportamento Moral.
É possível, com alguma liberalidade, associar a Ética com a Legitimidade (ou seja, com o “Direito Superior”, com a nobreza de sentimentos e de atitudes) e a Moral com Legalidade (ou seja, com o cumprimento das Leis e dos costumes estabelecidos).
Por essas associações é que se podem definir determinados atos, ou determinadas intenções como “legais”, mas “ilegítimas”, pois as mesmas só se pautam pelo aspecto exterior e formal das Leis e Costumes, sem obedecerem a nenhum sentimento mais nobre e decente.
Produção e divulgação de TAÍS ALBUQUERQUE, desde o Rio de Janeiro, no inverno de 2013.