VISÃO EM MEU CISMAR
Defronte o langue círio mais tremente,
Que na parede projeta-me a imagem,
Uma visão de angústia eu logo tenho,
Soprando em meu peito qual bafagem.
Meu mundo vai ruindo ao som da morte,
E um vento tenebroso a lua corta;
No meu olhar se forma a tempestade,
Querendo trazer vida a face morta!
Por todo lado há um pouco deste abismo
Sem fim - a falta de um caminho certo,
E busco no infinito uma resposta,
Não creio que ela possa estar tão perto.
Eu blindo nestas mesas pavorosas
À luta que de mim vai se alentando;
No bolso - a miséria que me devora...
E derredor o inferno perpassando!
É negra a minha sina de poeta...
É fogo que ao queimar o corpo apraz.
Eu sinto-me sozinho neste mundo
E em meio a tanto escombro não há paz.
Escravo desta dor que não se finda,
A cruz que tem no seio o meu destino,
Na qual esquivo corre um turvo pranto,
Que foge em meu cismar tão repentino.
Oh! Vejo ao brilho frouxo que me vela,
Eu povoando uma fria floresta,
Sem viço p`ra crescer ante estas trevas
E alquebrado, como durante a sesta.
Porque jamais me foi de outra maneira
Os dias que se acendem qual um círio,
Que podem alumiar e se apagam
Quando tanto desejo foi delírio.
E a luz que esta verdade põe à tona,
Eu mato quando a sopro num espanto.
Não mais quero enxergar estas agruras,
E vou fugir do frio no roto manto.
POEMA ESCRITO EM 29/04/2006