Qual maçã que apodrece intocada

Estou com um ar tão desolado que comovo os trausentes com quem o acaso me faz cruzar

Os objetos que trouxe de casa já não são suficientes para me consular

Tenho saudades do “eu” que sou contigo

Do friozinho no umbigo quando me afagas a pele

Tenho saudades do teu falar, dos sons da casa ao acordar

Da musicalidade tribal de teus passos no soalho

Que vibra as paredes e me irrita, mas são prova da tua presença, da tua existência

 

Sinto-me só

Estou demasiado longe

“Eu e tu” parece-me fumaça de um sonho distante

Vivido mas difícil de lembrar

Não os acontecimentos, que estão frescos na memórias

As emoções de que estavam impregnados

Questiono a tua existência em mim

Existes mesmo? Serás real, ou apenas criação da minha mente?

Desfaço-me em pedaços qual maçã que apodrece no chão sem ser tocada

Bolo que endureceu sem adoçar a boca de alguém

Sinto confusão, incerteza

a angustia de te querer presente

Quero o conforto dos teus braços e da tua barba áspera

Quero a tua teimosia exasperante

A tua parte que me pertence

Que me deste para cuidar

 

Não choro apenas por vergonha

Não porque não queira chorar

Eu que inocentemente

Puramente

Apenas te queria amar

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