HUSSERL, Edmund - Filósofos Modernos e Contemporâneos

HUSSERL, Edmund

1859 – 1938

A Fenomenologia

Em 1859, na Moravia, então integrante do Império Austríaco, nascia EDMUND HUSSERL, o homem que tentou organizar uma das principais partes da Filosofia: a Fenomenologia, o estudo dos “Fenômenos”, ou de tudo aquilo que pode ser captado, ou percebido pelo homem através dos seus Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato).

HUSSERL iniciou seus estudos com a Matemática e com a Astronomia, mas após terminar seu Doutorado na primeira, dedicou-se exclusivamente à Filosofia.

Casou-se com MALVINE STEINSCHNEIDER, com quem teve três filhos, aos quais sustentou lecionando para alunos particulares, em Halle, onde ficou até 1901, quando foi chamado para ser “Professor Associado” na universidade de Gotina.

Em 1916 assumiu o posto de Mestre na universidade de Freiburg, onde teve, dentre outros, MARTIN HEIDEGGER, como aluno.

E foi HEIDEGGER quem teve participação direta em sua exoneração, em 1933, ao denunciar-lhe aos Nazistas, devido à sua ascendência judia. A partir de então, HUSSERL dedicou-se unicamente a escrever até que a morte o atingiu em 1938.

O comportamento questionável de HEIDEGGER, não o impediu de usar o ideário de HUSSERL para construir o seu Sistema Filosófico, do qual nasceria o Existencialismo. Por isso, alguns eruditos além de criticarem a sua falta de ética pela delação em si, acusam-no de ter se apropriado das ideias originais do professor e com isso auferir os créditos resultantes de sua utilização.

Afirma-se, aliás, que foi HUSSERL o verdadeiro criador do “Sistema da Existência”, ou “Existencialismo” que, como se sabe, dominou o pensamento ocidental desde o pós-guerra até os dias atuais, ainda que lhe vistam com outras roupagens e lhe deem outros nomes.

Mas, além de HEIDEGGER, outros pensadores também se encantaram com a Fenomenologia e, agora de maneira ética, levaram-na para a França, onde filósofos como LEVINAS e MERLEAU-PONTY a repassaram para o resto do Mundo, colocando-a como a pedra basilar de seus próprios Esquemas Filosóficos.

 A partir de então, as ideias de HUSSERL tornaram-se fundamentais para uma série de eruditos que passaram a lhes ver como o fundamento mais apropriado para todos os estudos que consideram os Fenômenos como a “porta de entrada” dos esquemas que vigoram na atualidade.

O método científico aplicado na Filosofia.

Há consenso sobre o fato de HUSSERL ter herdado de seu mestre, FRANS BRENTANO a ideia de que a Filosofia precisaria de um método científico como instrumento de trabalho, pois o rigor lógico desse tipo de estudo, proporcionaria meios mais confiáveis para se chegar às “Verdades” que os homens sempre buscaram.

Em termos resumidos, pode-se dizer que HUSSERL absorveu a seguinte ideologia:

  1. A Ciência aspira à certeza absoluta em relação ao Mundo.
  1. Mas como a ciência é Empírica e, portanto, dependente do que foi captado pelos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato), suas proposições só podem ser feitas através da Experiência a Posteriori.
  1. Ademais, a Experiência está sempre sujeita a suposições, predisposições, insuficiência de intelecto, visões individualistas etc., pois o que foi captado pelos Sentidos de um homem, será quase sempre diferente do que foi captado por outro homem.
  1. Logo, a “Experiência em si”, não é confiável. Tampouco ela pode ser considerada como “Ciência” no sentido lato do termo.

Mas, então, como chegar à “ciência em si” e, depois, às “verdades filosóficas”?

Para HUSSERL e seguidores, apenas um caminho poderia levar ao “conhecimento verdadeiro”: estudar até a compreensão total, os Fenômenos que formam a Experiência e, então, cartesianamente, compreendendo as Partes, chegar ao entendimento do Todo. Atingir o completo entendimento da “experiência”.

Só a partir daí é que se partiria em busca das respostas para as “Verdades Primeiras, ou Filosóficas”.

NOTA do AUTOR – o (a) leitor (a) notará que HUSSERL, como tantos outros, bebeu na fonte de Descartes em várias ocasiões.

A “plena certeza”

HUSSERL tinha o objetivo máximo de atingir a “Plena Certeza”. Objetivo, diga-se, que sempre permeou a ambição doutros filósofos.

Já na antiga Grécia, SÓCRATES, por exemplo, colocou como impeditivo da “Certeza” a nossa incapacidade intelectual para mensurar as coisas e as noções abstratas. Segundo ele, podemos concordar facilmente com outros homens sobre as Coisas que podem ser captadas pelos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato).

Concordaremos, por exemplo, facilmente sobre o fato de “existir cinco pessoas na sala”, pois o que os nossos Sentidos e os Sentidos dos outros captam convergem para esse mesmo número.

Mas quando se trata de questões filosóficas, abstratas, superiores, como, por exemplo, “o que é a Bondade, a Maldade, a Justiça, a Injustiça etc.(?)” a concordância termina imediatamente, pois são questões que estão além e acima da matéria mensurável.

E se não podemos saber com certeza o que é, por exemplo, “Justiça” como se poderia discutir a sua natureza, a sua gênese, sua serventia etc.

Como se poderia investigá-la, estudá-la em sentido lato e lhe dar uma definição que seja geral, universal, (ie, que a todos convença) se nem mesmo um consenso parcial é possível?

O Problema da Exatidão

HUSSERL, como se disse, iniciou sua carreira como Matemático e por isso habituou-se às “certezas que caracterizam esse assunto. Sendo assim, imaginou que os problemas apresentados à Filosofia pudessem, também, serem solucionados com essa mesma Certeza.

Ele ambicionava colocar todas as Ciências* em uma base segura; ou seja, em uma condição que permitisse que o estudo da mesma produzisse Certezas definitivas.

NOTA do AUTOR - *que à época incluíam todos os ramos do conhecimento humano, desde a química, a física, a matemática até a Psicologia, a Filosofia, a Ética, a Política etc.

Mas o fato de que normalmente os estudos científicos iniciam-se com as “Teorias Científicas” que se baseiam em Experiências, parecia-lhe um obstáculo intransponível para sua pretensão. Afinal, para ele, a “experiência” não constitui “Ciência”, propriamente dita, já que ela é naturalmente formada por ilações, suposições contradições etc.

E justamente por isso, não podem trazer em seu bojo a ambicionada Verdade Absoluta, já que as partes que a formam são deficientes e/ou relativas. Portanto, o caminho, deveria ser outro.

E a partir daí, ele se propôs a expulsar as “incertezas” para dar aos Estudos Científicos as bases sólidas e incontestáveis que, num segundo momento, embasariam as Teorias Filosóficas resultantes.

A influência de DESCARTES

Para tanto, recorreu ao ideário do filósofo francês RENÊ DESCARTES (1596 – 1650), como citado em Nota anterior – alterando-o conforme os seus interesses.

Como se sabe, DESCARTES queria libertar a Filosofia das suposições, predisposições e dúvidas que de acordo com o pensamento de sua época, vinham dos “dogmas religiosos” e das crendices da pura Mitologia. Já para HUSSERL, as suposições, as dúvidas etc. provinham do Racionalismo e do Materialismo que predominavam em seus dias, além, é claro, dos antigos dogmas religiosos e místicos.

A célebre a afirmativa* de DESCARTES sobre a questão da existência e a sua brilhante decisão de usar uma “dúvida evidente” para chegar a uma “certeza tecnicamente incontestável”, encontrou eco em HUSSERL, que, então, se propôs a fazer o mesmo em suas investigações.

NOTA do AUTOR* – o famoso “Cogito”, a sentença de que “embora quase tudo pudesse ser posto em dúvida, ele não podia duvidar de que duvidava”.  

Usar o que poderia ser visto como incerto para alcançar uma certeza quase palpável.

E para tanto sugeriu que se adotasse uma postura “cientifica em relação à “experiência”, descartando toda suposição para, só então, começar a se pensar de modo filosófico. Estava criada a abordagem que Husserl chamou de Fenomenologia, ou seja, uma “investigação filosófica” sobre os fenômenos da experiência.

Dizia: precisamos olhar para a “experiência” com uma atitude cientifica deixando de lado, ou “Colocando entre Parênteses” conforme suas palavras, todas as nossas suposições.

Então, se olharmos com paciência, cuidado e atenção, poderemos criar uma base segura de Saber, de Conhecimento que nos permitirá trabalhar com os problemas apresentados à Filosofia desde os princípios da história.

Em tese, Husserl teria descoberto a “Pedra Filosofal”, mas infelizmente seu método não pôde ser utilizado em qualquer campo. Vários pensadores tentaram utilizá-lo, porém nunca houve concordância entre os mesmos sequer sobre o que seria o “método em si”, tampouco sobre a maneira de usá-lo na prática.

O próprio HUSSERL, no final de sua carreira admitiu ter falhado na tentativa de dar aos Filósofos e a outros eruditos a maneira de se abordar uma questão teórica, especulativa, abstrata, filosófica com todo o rigor cientifico.

Restou-lhe o consolo de ter criado uma das tradições filosóficas mais estudadas no campo do pensamento e a esperança de que seu modelo de estudos venha a ser aperfeiçoado por outrem em algum momento do Futuro.

 

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