PERI

Ó filho da mata
Teu sangue guerreiro
Será o primeiro
Na tribo feroz;
Teu olho silvestre
Que lança uiraçabas,
É o sol nessas tabas
Que espanta os potós.

Teu grito de guerra
Retumba no abismo,
Como um cataclismo
Ao som do boré;
Qual a samaúma
O teu corpo encerra
O brilho da terra,
No caipora a fé.

Em meio ao combate
Teu canto é bravio
Mais forte que o rio
De brusco caudal;
Não foges da luta,
Teu nome é batalha,
Teu sangue amortalha
O espírito mau.

Ó filho da mata
Tu és maruim,
Mas és curumim
Em teu coração.
No braço garrido
Tens um jacumã,
Melhor que o caimã
Nadando co`a mão.

Tu és tão garboso,
Mimoso sagüi
Tu és juquiri
Intrépido, alitvo.
Teu beijo é curare
Também é puçanga,
Qual pudica tanga
Ao olho furtivo.

Se vagas na ubá
Encanta o teu riso
O semblante liso
Dessa cunhatã;
Teu negro cabelo
É o manto noturno
Que faz tão soturno
O maracanã.

Ó filho da mata
Que bebe cauim,
Pesca surubim
Se vagas na ubá.
No ocara és ditoso,
Caraxué belo,
Balança com zelo
O áureo maracá.

Da tribo pujante,
Valente Peri,
Fez-te guarani
A selva da dor!
Que a vida é renhida
Tu sabes, entanto,
O mais triste pranto
Te trouxe o amor.

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