A Gota de água e a Lágrima
A Gota de água e a Lágrima
O dia era negro, chuvoso e tristonho.
As lágrimas caíam sem parar naquele rosto enrugado da vida árdua da terra, que escondia o olhar fixo e moldado numa pequena janela vidrada amparada com pedras sobrepostas sem qualquer modelo de arquitectura.
Pela vidraça da janela caminhavam minúsculas gotas de água, inofensivas, brilhantes e não desiguais ás lágrimas que queimavam e mutilavam a pele, a alma e o fraco coração envelhecido pela idade daquele rosto maltratado e enxovalhado pela vida.
Aquelas lágrimas abraçam, na vidraça, as gotas de água expulsas do infinito manto azul, que nos sobrevoa e fundem-se no regaço da janela e exclamam:
- Afinal, somos diferentes!
Indignada a Gota de água anuncia a sua tarefa.
- Dou de beber á natureza, faço crescer todo o espaço verde, dou cor, sou fresca, purifico a alma, mas… dou tristeza quando uno forças com as outras gotas. E tu Lágrima, porque és tão quente e salgada?
E a Lágrima tristonha e pensativa responde:
- A minha tarefa é diferente, mas por vezes, é tão penosa como a tua. Posso ser fruto de uma destruição interna do Homem ou fruto de uma alegria. A tua penosa destruição da natureza, exterior aos humanos, provoca tristeza sobre a alma de pequenos e grandes seres que me transportam, mas, a tua outra faceta de colorir a mãe natureza coloca um sorriso desenhado no rosto, que provoca emoções fortes e obrigam a minha expulsão, por isso, possuímos uma ligação forte como aquela que permaneço com o meu portador.
Sou salgada, porque existe no interior da minha casa emoções fortes que necessitam de mostrar ao mundo o seu tempero. Sou quente, porque guardam – me carinhosamente.
E sem interromper o trajecto destinado, olharam para trás e observaram o desgosto empobrecido no olhar daquele rosto vinculado á janela a pedir clemência aos Deuses, para intervir na interrupção da queda das gotas de água, que aprisionavam dentro das quatro paredes revestidas de pedras robustas de tamanhos diferentes sobrepostas manualmente.
A Gota de água e a Lágrima apavoradas, desenham no chão o caminho dos seus destinos, marcam presença no Universo e epilogam, que o mesmo é a união perfeita de todas as coisas.
O Universo é a aliança de parcelas, não ao acaso, pequenas, grandes, bonitas, feias, direitas, tortas, com reacções fortes ou menos fortes funcionais ao seu desenvolvimento e como elas nós Humanos somos uma parcela do Universo.
Somos diferentes e iguais á Gota de água e á Lágrima, possuímos uma missão no Universo. Caminhamos a olhar para trás e conseguimos ver algumas marcas do nosso destino e contudo sabemos, sem pronunciarmos , que a ligação parcelar ao Universo terá que ser perfeita, para isso, teremos que fundir o ódio no elo mais forte o AMOR.
Gila Moreira (2005)