A pobreza de um ser
Ser pobre não é ser inferior
É apenas viver em contínuo terror
É temer com aflição o negro dia
Em que morre todo o esforço feito no dia-a-dia
É desalentadamente implorar alimento
Sabendo bem o que é o desalento
De não ter um futuro crivado de paz
De nem a família ajudar de forma capaz
Nasceu pobre mas ainda assim honesto
Apesar do rigor da vida, é ainda assim modesto
Tal como modesto é o seu simples protesto
Satisfaz-se com o que outros deitam fora
Bem os amaldiçoa nessa triste hora
Em que rebusca os seus lixos e chora
Mas as lágrimas de um pobre valem apenas
Miseras e escassas atenções, piedosas novenas
Que na morte entoam mas sem carácter nobre
Porque quem morreu era apenas mais um pobre
Deixou família e filhos para criar
Que agora sem apoio sofrem a dobrar
O mais velho vai ter que muito trabalhar
Para o mais pequeno puder sequer respirar
E assim a pobreza de um ser,
Condiciona com a avareza de perder
Uma potencial família agora a crescer
Porque ninguém deles quis realmente saber