Vida Concreta

Ando pelas ruas me forçando a acreditar

Que o chão em que piso é concreto,

Com a cabeça nas nuvens

Cada vez mais etéreas, mais distantes…

 

Estou cercado de um ar vazio,

À minha volta, tudo parece vácuo

Me sinto vago…

 

É tão estranho…

Num mundo cada vez mais interligado,

As pessoas estão mais distantes

E o espaço aumenta, até engolir tudo

E envolver o tudo em nada.

 

Todo mundo agora é ninguém

- Nem sei se são gente.

São pessoas, apenas…

Como é mesmo o seu nome?

 

E o tempo corre loucamente…

Há uma hora… já faz tanto tempo!

Amanhã?! Vai demorar muito!

Sou eu! E quero agora!

 

Nossos sonhos são reais,

Nossa realidade, fantasia,

Nossa vida, mera virtualidade

Sem virtude, tudo é certo,

Nada é errado,

Nada é duvidoso.

 

Mas, se o nada ao meu redor

For o tudo de alguém,

Nossa vida se encontra,

E o pânico surge

No susto de saber que não estamos sós

E, ali na esquina, tem um outro mundo

E que eu não existo nele.

 

E me forço a acreditar, pelo menos,

Que o chão em que piso

É concreto.

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