Á PAZ DOS POVOS : HOMO, EX HOMINIS LUPO, HOMINIS COOPERATOR
De lobo te foi dado outrora o nome,
Lobo que a propria especie devastava
Cruento e fero, qual não viras nunca
Leões, pantheras, tigres ou chacaes!...
E a fera, quando a fome
A incita, é quando crava
O dente e a garra adunca
Nos miseros mortaes.
Da massa do teu cerebro colhendo
A luz consciente e pura das ideas,
Concebes mil engenhos homicidas,
Inventos d'infernal destruição!
Com elles, monstro horrendo!
Ha seculos semeias,
Em guerras fratercidas,
A morte e a assolação!...
Mas como as forças cosmicas da Terra
Cessaram suas luctas de gigantes,
Trazendo á luz do Sol, d'amôr sedenta,
Dois mundos revestidos d'esplendores,
O mineral que encerra
Os fulgidos brilhantes;
E o vegetal que ostenta
O olhar gentil das flores:
Assim as mil paixões que a tanto custo
Contem teu peito e o rubro sangue agita,
Por ultimo hão de ter a vida calma
Que impõe por norma a tudo a Providencia;
E o Bello, o Bom e o Justo,
Na sua acção bemdicta,
Levar-te aos seios d'alma
A paz da consciencia!
Do sol os raios que dão vida ao globo;
Da vida a força multipla que actua
Em prol de cada qual, para que tomem
Quinhão no Bem, que é dado como a luz:
Reclamam nos que o Lobo,
Da historia se destrua,
E dê lugar ao homem
Sonhado por Jesus!
Se o cahos do teu peito foi sequencia
Do cahos primitivo da natura:
Terá tambem destino egual ao d'este;
Dará um quarto mundo, o da Verdade!...
O da alma, cuja essencia
Incorruptivel, pura,
Procria a luz celeste
Do Bem, na Humanidade!
Ver-te-has então qual Semideus Consciente!
O sangue que pecorre em tuas veias,
Origem dando a fulgidas doutrinas,
Ás nitidas noções das coisas bellas:
Tua alma um resplendente
Santuario, onde as ideias
Serão luzes divinas,
Mais puras que as estrellas!
Antithese da Vida do Passado,
Compete-te integrar na Terra os Povos;
E, chave do vastissimo problema
Da Vida humana: honrando o Redemptor,
Nos ceus tem Deus traçado
Aos teus destinos novos,
Por synthese suprema,
A Paz, o Bem, o Amor!
25 d'abril de 1898.