Infância
A acreditar
crescemos invencíveis
conquistamos o mundo
realizamos sonhos
percorremos tudo
imaginámos mais!
Se no fio pousavam os pardais
também nós podíamos voar
porque bastava tentar
sempre mais e mais!
Em bando
atravessávamos
idades e fronteiras
voando intrépidos,
errantes mas certeiros!
O mundo era nosso!
O futuro era glorioso!
Agora...
quem nos viu e quem nos vê,
vencidos e adormecidos
murmuramos:
«Não importa
nada importa!»
Fechou -se uma e outra porta
E cá dentro, lentamente, a morte:
vai-se a vontade
vai-se a alegria de viver
no fio da navalha
e o pardal, esse, vai
acabar por desaparecer!
De intrépidos
a submissos
deixámo (-nos) perder:
primeiro as asas
depois o cantar
e quando demos conta
até as pernas já nos tinham sido cortadas!
Sonhos amputados...
fronteiras criadas...
medos edificados...
De nós já só pedaços de nada
esmiuçados e um distante passado...
Tornámo-nos velhos pesados
de almas enrugadas!
CFV