a flor austera
Autor: António Tê Santos on Wednesday, 3 January 2018regurgito reflexões que abrasam os enredos do cortejo mundano quando operam numa terminologia desvairada condensando a minha solidão.
regurgito reflexões que abrasam os enredos do cortejo mundano quando operam numa terminologia desvairada condensando a minha solidão.
O desgoverno...
Inoperante diante da astucia esperada,
incólume em solo movediço,
de causas mal resolvidas,
satisfeito de ser menos que o prometido.
Haveria sorte em que acreditar,
antes mesmo de começar,
sua vontade será igual surda,
no mundo absolutamente inseguro.
No mesmo comprimento do ora andado,
pelos martírios já suportados,
cobrada pelo espanto de sua enorme sombra
recalcada ainda com o sol a pino.
Presente sempre com enorme fragilidade,
na matilha dos inconsciente,
Sereno
Se me encontrares no sereno
serenamente me agasalhe
acalente meu corpo
enxugue minha face.
Se me encontrares sereno
serenamente me abrace
aqueça seu corpo no meu
grude seu rosto em minha face.
Se serenando está a noite
se molhado estiverem os campos
sereno é meu encanto
de te ver assim me encontrando.
A caixa
Me vi pequeno, muito,
dentro de uma caixa, minuta,
com paredes, supremas,
em cima de um nada, hórrido.
Assim como antes, hoje,
perdi o tempo, num instante,
ganhei olheiras, gigantes,
nada resolvi, estranho.
Onde estou, agora,
e o que restou, depois,
e quando não mais ver, verei,
serei todo então, resolvido.
Chegaste suavemente e como que por acaso
Foste ficando, umas vezes perto, outras nem tanto
As ausências começaram a parecer longas
E as presenças começaram a parecer curtas
E via o teu olhar sem estares
E ouvia o teu sorriso quando fechava os olhos
Sentia o teu cheiro quando respirava
Até que eras em mim, presença inteira
E ficaste por fim
Por mim e por ti, por nós
Porque teria que ser assim
Sem fim…
Ou que por fim, outro acaso nos afaste.
Apenas aquele som estridente e ininterrupto
a exaltação da sensibilidade em torno de panaceias concludentes que aplaudem as minúcias refletidas em vocábulos que espezinham a universal subserviência.
Tinha uma flor na trinca da terra seca
parecia trote ou mentira
o que lá for seja
mas uma flor ali tinha
apesar do sol
apesar de só
fora parida
ou plantada?
tinha um ar circunspecto
parecia ainda viva
de longe, uma miragem
de perto, um milagre
mas ninguém ousou arrancá-la
sequer tocá-la
mil selfies tiradas
mais tarde, um milhão de curtidas
nenhuma gota d’água