Sem Título 6

Cantam as túlipas.
E busco um cristalino mar
dum azul intensamente sensível.
 
Agora há-de sobressaltar-se gemendo
na sua farpada dobra
que me torce as unhas até esmagar
a água em volta do corpo,
por fora e dentro arbitrário,
ao entrar e sair salva,
como a luz florescente
duma janela longínqua debaixo
deste lento mar penetrante.
E faz idênticas espumas polirem meu suspiro

Sem Título 4

desviassem filamentos de pedras pomes ao lume
que mergulha o meu corpo violino
na devassidão das noites picantes conseguiria modelá-la
e antes disto ouvi-la transpirar estanque potência
 
entretanto faço parar o giro desse sol
em espiral indolente
para encher o tempo com sabor corajoso
 
solto-me do soluço maníaco
de um mar afrodisíaco dedal
tanto se mente a si mesmo como devora
o chilrear do aroma azul-celeste divertido

Sem Título 3

fecho os olhos
abro-me nos teus como uma balada impune no seu sangue
oscilante
 
entretido percorro-te, estremeço-me nas veias singulares
depois com a ponta da língua
afável caligrafia reponho as cordas giratórias
 
e andas no meu imenso chão
um chão embalado p'los nossos sorrisos de cetim
só teu, só meu a transformar-se
 
porém nunca a concluir ou terminar salvo esse romance

Sem Título 2

Na palma de minha mão
cabem os esguichos daquele emaranhado mar
ofegante
 
esfiam-se cachos de búzios nas bordas
tacteando uma pandemia de linhos a puxarem-se
temperamentalmente
do bico pontiagudo das aves a moer
o céu pálido da boca
amedrontava num arrepio arenoso
 
embora fosse embarcar nas ocas águas
sem os antepassados existirem
decidi riscar
o fundo que não estava destinado

Sem Título 1

Livram-se de súbito
árvores dormidas
no barlavento
de mágoas íngremes
frente aos cotovelos
que te desprendem
ao sorriso
desses rios passageiros.
 
Mais à noitinha
a sua curva de ervas doiradas
desvairam-se longamente
cheias de cheiros graves e furtivos.
 
Ganham voo esquecido
mesmo que emparelhados
atrás do cesto de frutas a escorregar

Além, Muito Além das Areias Desse Mar

Oi! Num peixe de asas eu quero então voar
Navegar no céu azul até onde você for
Abandonar as estrelinhas e viver no teu amor
Além, muito além das areias desse mar

Oi! Nas lágrimas do mundo é que eu quero navegar
E beijar de uma flor todo o carinho que tiver
Na doçura de sua pele ou no perfume de mulher
Além, muito além das areias desse mar

Na Valsa da Tempestade

A luz de tua ira ilumina o meu caminho

A fúria de teus mares sim me leva muito além

O rancor de tua tormenta só me serve muito bem

É apenas água doce que me serve com carinho

 

Tuas ondas de agonia me transportam para o céu

E o eco do teu grito me permite flutuar

Contra a batida de teu peito ainda posso navegar

E contra o brilho de teu olho velejar como se ao léu

 

E é na queda de teu tom que resplandece a melodia

Que brada forte o meu nome e me torna uma lenda

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