Por vezes, senta-se o aborrecimento na sensatez. Embrulha o corpo, amolece os ossos, deprime a pele, num nítido semblante de dor da alma, causada pelo entrecruzar eléctrico dos neurónios.
Contra todos os prognósticos, vicejam os vermelhos no espanto do próprio sangue em contra-senso.
Contudo, existe uma densidade que faz tentativas sucessivas de cerco, para atiçar as inseguranças, fomentando medo.
Prossegue o debate, sempre rejeitado pela megalomania encaixada em redomas resplandecentes de vazio-eco.

Com o roteiro em branco,
O palco vazio,
As roupas prontas,
A maquiagem preparada,
Mas sem os personagens ensaiados você faz a sua peça de teatro.

Você só tem que subir no palco e fazer o que quiser
Mas cuidado!
Você tem pouco tempo para sua apresentação.

O mais belo sorriso,
O mais inocente
O mais doce sorriso,
È o sorriso de uma criança.

O mais puro olhar
È o meu olhar infantil.
As mais pequenas mãos
As mãos mais doces
È a mão da criança!

Ah! se o mundo fosse como o mundo infantil!
Seria mais doce,
Mais sincero,
Mais silencioso nas guerras
E mais gritante na paz.

Não importa se seus olhos estão fechados,
Para mim eles estão abertos.
Não importa se não posso te tocar mais
Toda noite te toco em meus sonhos.

Sei que da sua boca não ouvirei mais nada
Mas meu coração gravou sua voz.
Não importa quantas lágrimas eu derrame
Eu sei que não pode mais ve-las.

Não importa se você se foi
No meu coração você continua viva.
Quando eu dizia que te odiava não era verdade...

Se o paraíso não existisse,
O inferno fosse uma ilusão humana,
Se o homem não se dividisse em religiões,
Se o mundo fosse apenas um
O que haveria?

O amanhã pode ser muito tarde,
Pode não chegar
Pode não acontecer.

O amanhã não nos cabe saber
Ontem? isso já faz tempo
Apenas o hoje e o agora é definitivo.

Avaros reis balofos que prezam aios, lacaios para içarem estandartes infames, num jogo fedorento que escala até às nuvens quase paradas, como latrinas destapadas. Furtam afamados louvores por trocos de vassalagem. Estendem mantas de aversão sem data ou transmitem fadiga, a retirar dedais à dignidade sem qualquer pudor. Uns imitam falsos fios de submissão e modéstia, enquanto outros elevam o pescoço, enchem a cara de ira a ameaçar eclodir em transbordante contagioso uivo. Texto de Mirandulina

Ande mais um passo apenas
E veja que nada está perdido...
Ande um pouco sozinho...
Para ver a vida do seu jeito.

Ande descalço para sentir a grama molhada.
Ande um pouco chateado para ver que nada é perfeito.
Ande devagar para não perder nada de vista.
Ande de noite para ver as estrelas brilharem em meio a treva.

Ande com as mãos soltas para pegar a flor.
Agora pare.
Olhe...
Nada acabou por causa de um passo que você tinha medo de dar.

Um dia o mundo há de ser melhor?
Será que a fome e o medo vão acabar?
O sofrimento vai parar?
Será que um dia a realidade não será tão pesada?

Um dia o mundo há de ser melhor?
Será que a fome e o medo vão acabar?
O sofrimento vai parar?
Será que um dia a realidade não será tão pesada?

Um poema, simples poema apenas.
Mas sobre o que?
Sobre o que escrevo se a rotina cerca-me.

A rotina me devora dia a dia,
Estou presa nessa chata rotina
Que poema posso escrever se a rotina é tudo que tenho?