NOITES GELIDAS

 

MERINA

Rosto comprido, airosa, angelical, macia,
Por vezes, a allemã que eu sigo e que me agrada,
Mais alva que o luar de inverno que me esfria,
Nas ruas a que o gaz dá noites de ballada;
Sob os abafos bons que o Norte escolheria,
Com seu passinho curto e em suas lãs forrada,
Recorda-me a elegancia, a graça, a galhardia
De uma ovelhinha branca, ingenua e delicada.

Sestança

    Ia em meio da minha Mocidade,
    Perdido d'affeições, ao vento agreste,
    Quando na Vida tu me appareceste,
    Sestança, minha Irmã da Caridade!

    Ninguem de mim dó teve, nem piedade,
    Ninguem n'a tinha, só tu a tiveste:
    Quantas velas á Virgem accendeste!
    Quantas rezas nos templos da cidade!

    Que te fiz eu, Espelho das Mulheres!
    Para assim merecer um tal cuidado
    E tudo quanto ainda me fizeres?

Se as minhas mãos pudessem desfolhar

Eu pronuncio teu nome 
nas noites escuras, 
quando vêm os astros 
beber na lua 
e dormem nas ramagens 
das frondes ocultas. 
E eu me sinto oco 
de paixão e de música. 
Louco relógio que canta 
mortas horas antigas. 

Eu pronuncio teu nome, 
nesta noite escura, 
e teu nome me soa 
mais distante que nunca. 
Mais distante que todas as estrelas 
e mais dolente que a mansa chuva. 

OPERÁRIOS

Ó a morna manhã de fevereiro. O vento sul importuno veio reavivar nossas lembranças de indigentes absurdos, nossa jovem miséria.
Henrika vestia uma saia xadrez branca e marrom, em moda no século passado,
uma boina com fitas e um lenço de seda. Era bem mais triste do que um luto.
Dávamos um giro nos subúrbios. tempo nublado, e esse vento do Sul excitava
todos os odores ruins de jardins arrasados e campos secos.
E isso parecia cansar mais a mim que à minha mulher. Numa poça deixada

Eu Sou Assim

 

Eu sou Assim.

                               Guel Brasil.

            Não sou bonito nem feio

            Não sou rico nem sou pobre,

            Não tenho muita leitura

            Não sou plebeu nem sou nobre.

 

                        Não sou branco nem sou negro

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