(S)Em voluta
Autor: Rute Iria on Saturday, 2 July 2022"In this short Life that only lasts an hour
How much - how little - is within our power."
DICKINSON, Emily "In this short Life that only lasts an hour", 1873
"In this short Life that only lasts an hour
How much - how little - is within our power."
DICKINSON, Emily "In this short Life that only lasts an hour", 1873
estabeleço-me num eremitério onde robusteço os vocábulos oriundos da minha imaginação; onde desprendo do raciocínio algumas meditações consistentes; onde abdico da dolorosa máscara mundana.
ando
como se tivesse nas pegadas
halteres de fisiculturismo
e quando a chuva
inunda de asas
o êxodo dos insetos
sou o halo da existência
e seu contato com a estação
e
sem querer
me vejo através dos flocos
de voragem
que me desatam a névoa
dos olhos
como borboletas assépticas
soltas
na atmosfera
sem enigma de aragem
ou tolice de hera
os meus versos contestam os relatos encrespados da minha lembrança: são como flechas que intentam alcançar uma aura triunfal; são ditirambos que retiro da bagagem para suprimir a tristeza.
E se fizermos tudo o que queremos
Sem planos para que pensar
Buscar assim tudo que podemos
Nos grandes pequenos detalhes que podemos sonhar
E se esta magia fosse real
Demasiado leve para nos perdermos nela
Poder sem um estranho animal
Que aos olhos famintos fosse simplesmente bela
E se as estradas nos levassem ao paraíso
Àqueles que pelo caminho acabamos por perder
Eu podia ver novamente o meu sorriso
E abraçar aqueles que nunca vamos esquecer
E se a vida é realmente um mistério
Em outrora éramos mais felizes
Tão felizes que riamos por nada
Guardamos na mente os deslizes
Os escorregadios da vida enfada
No fulcro empoeirado lá encontra
O apego que outrora houvera
Limpe-se de orgulho que se afronta
Das sujeiras que não te regenera
Tem medo da minha rejeição
No fundo se você ficasse
O aprendizado era a perfeição
Quem dera se eu te abdicasse
Deixo a carta para ninguém.
Enforquei-me com estrelas.
O ar imbuído de cinzas,
Das nuvens desce a corda
Perscrutando meu braço.
O tecido da realidade rasga,
Francamente… recortado.
Membros bailando o vento:
A pictórica imagem do fim.
Os pássaros depenaram,
O horizonte agora estreito,
Meu voo já não é nu
E a vida espremida ao peito.
dissipo as minhas imperfeições na praia dos costumes ou na selva apoteótica: os meus versos emergem dum infanticídio cruel: encerram lembranças que atravessam um temporal onde a corda da vida se esgarçou.