Os itens do silêncio

Cada item do silêncio é peculiarmente extravagante
Empola todos os desvairados lamentos quase delirantes
Agrega em si os mais absurdos e estapafúrdios ecos insinuantes
 
Num ínclito sussurro a manhã desvela-se tão abrasante
Rega todos os desejos estrondosos, mirabolantes…tão divagantes

Julgamento

Dispostos a nos julgar,
À espreita com dedos,
À esquerda, ofensa vulgar,
Ao meio Deus fitando.
Uma lástima ser assim,
Os santos no estopim
Com o homem caído;
Deixe-o prostrado
No seu ódio largado
E queimado no ímpio.
Seja a diferença, filho,
Brevidade é um logro;
A canção engana,
É uma música profana
Como uma doce lira,
Tocada na raiz da ira.    

Dualismo

Um corpo não subsiste sem alma.
Uma andorinha não cessa a gula
Sem um voo pernicioso e calmo.
Um homem sem fé é um cadáver,
E um cadáver com fé, é a fome colérica.
Eis a suma das criaturas terrenas:
Um eterno dualismo sem razão.
Se beleza há, o feio míngua sua forma;
Dançar nos adágios da causalidade
É o que resta ao homem extenuado,
Porque vida e a morte justaposto bailam.
Sorte e azar procedem o augúrio póstumo.

UM POETA...

Um poeta, um escritor, um artista...
Sonhador, de opinião formador, pintor, 'desenhista'...!
Orador, pregador, alquimista, amador e amante inveterado!
Um dom, um 'chamado', uma arte... se aprende a ser
Ou alguém já nasce...!
Um privilegiado, escolhido, bardo, fingido, dotado...

Pensamento

Agora reflito no que eu penso

Na verdade da amargura sem saber

Não me contento

Eu olho para o céu

Na verdade eu já não tento

Digna liberdade

Deste meu nobre pensamento

Fico parado bloqueado no tempo

Onde fui ferido com gravidade

Neste meu eterno lamento

Procuro formas literais

De explicar este meu medo

Descubro ajudas banais

Para esconder todos estes segredos

Mas eu já não tento

Nem sequer penso

Vivo apenas cada segundo

Deste enorme tormento

O vento das cinzas

Até quando os ventos me jogarão?
Não tenho ideia ao que leva isso
Prostro mais um dia — clarão:
Estou cego pela mentira. Omisso,
Não da vida ou da sorte incerta;
A dona da tempestade bruma,
Dos júbilos da majestade serva 
E Rainha da rosa murcha:
Senhorita Morte me regojize  
Um último desejo material:
Incinerar meu corpo que exprime
O melodrama da vida lacrimal.
Minha existência voará ao poço

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