os terrenos impróprios onde me movi estavam contaminados pelo desejo e pela urgência da afirmação pessoal; pelos transes que enfrentei nas minhas refregas constantes; nas profusas teias mentais agora eclipsadas pela força da minha razão.

valorizo aqueles que sobrevivem graças à sua persistência em recobrar a integridade e o respeito dos outros após se eximirem às humilhações sofridas; aos destemperos que cometeram; aos sintomas da agonia que caracterizou a sua dolorosa solidão.

Que mundo irreal e feio é esse
Onde sonhos e prazeres nascem no toque
Da pele e suscitam prazer austero?

Se a vida se tornar assim, não quero viver.
Não quero o fim dos meus dias num paraíso
Sem suor nem calos de firme rocha.

Quero construir, quero lutar e sentir dor,
Quero tudo o que me lembre do progresso
Adormecido para lá do por do sol.

O meu desejo é sobrevivência e fervor
Por um querer mais que tudo dos sonhos.
Pois a perfeição está no que podemos tocar.

introduzo-me no âmago das futilidades que se vinculam às atuações mundanas para discernir o usual sofrimento das pessoas; as imposturas que se entranham nos seus mesquinhos preconceitos; os seus néscios costumes e os seus receios pungentes.

violenta-se o sonho quando as proezas humanas se desenrolam numa vasta arena donde quase ninguém escapa para impugnar tamanhas desavenças; para suprimir as mensagens que tantas fraudes enunciam; para acender a flama da nossa emancipação.

a têmpera ousada daqueles que buscam os proventos da sensibilidade; que agitam o cetro da franqueza para revelarem ao mundo os sublimes horizontes que percorrem; que enfatizam os vocábulos fluentes da sua conversão.

realizo a vontade de existir escrevendo versos ou folheando os livros dos arautos da liberdade que um dia há de nascer num mundo responsável; numa confraria que patenteie vocação para avançar pelas mutações fúlgidas que nos hão de redimir.

a gente que observo desde o lugar que habito aprimora a minha vida: porque desperta o meu interesse analítico; porque me obriga a proteger os meus sentimentos ameaçados; porque me robustece quando me expulsa do seu convívio desalmado.

É este o mel que impregna a colmeia
É minha dor se virando com o rebanho
Qual destino há para este universo doce protegido pela K47?
Ralando no pasto
É sempre o mesmo translado
Ao abatedouro

Tem boi ruminando
Uma saudade apertada
Um choque de realidade atual
Uma dor demasiada
É tanto passatempo
A maioria não se conhece no trem-bala
A fé é minha desalinhada
É como um calçado que não
Sabe distinguir os passos

defronto o mundo com galhardia porque os meus intentos ecoam mais alto que as mistificações que me torneiam; porque arremesso para um monturo todo o tipo de injúrias que sofri; porque impregno nos outros o teor da minha aprazível liberdade.