transfiro para os meus versos as deambulações pelos roteiros do mundanismo; pelas enxovias onde alentei a minha solidão; pelos lugares infames onde não me precavi contra a hostilidade envolvente.
ordeno os meus dilemas de acordo com a gravidade das lambadas que sofri; de acordo com as perturbações que acumulei quando me introduzi no mundo e nas suas questiúnculas usuais; quando escutei as suas ladainhas disformes.
a minha voz ressoa no firmamento da poesia quando ultrapassa as minhas perturbações; quando ignora os meus inimigos; quando desperta o meu fervor; quando capta a essência do mundo que me rodeia.
seja bem-vindo à janela donde avisto os meus tormentos: siga os meus trilhos desregrados e repare na hediondez circundante: nas atuações execráveis daqueles que constrangeram os meus sentimentos e inspiraram a minha poesia.
outorgo valor àqueles que fazem uma leitura sábia do mundo que impede os seus desenlaces tenebrosos; que inundam o quotidiano explosivo com dísticos de fraternidade; que instituem uma pacífica ordenação.
a juventude está dentro de nós quando asseveramos os nossos problemas duma forma transparente; quando somos projetados para a vala dos reprimidos e dela saímos corajosamente; quando ainda possuímos resquícios de candura.
exorcizo as experiências que tive no fulcro duma juventude austera; no terreno das virtudes hipócritas; na clausura onde habitava a monotonia; nos desenganos dum saber empinado; na implacabilidade dum sofrimento precoce.
SÃO AS FLORES
QUE JUSTIFICAM OS OLHOS
DE QUEM AS VE
SÃO OS OLHOS
QUE FECUNDAM AS FLORES
DE QUEM AS PLANTA
SÃO AS SEMENTES
O ÚTERO DA TERRA
DE QUEM AS GEROU
a íngreme escadaria que eu ascendi para gravar nos meus versos as paisagens que engendrei... as hediondas atuações que eu corrigi para robustecer os meus sentimentos... para imprimir a generosidade na minha biografia...