Sonho
Autor: Eduarda Barbosa on Sunday, 26 January 2025Excerto do poema "Sonho", sobre fotografia de mar.
Excerto do poema "Sonho", sobre fotografia de mar.
refreio as mágoas para evoluir como alguém que deseja sepultar o seu passado no monturo das condutas degeneradas; que deseja emergir os horizontes reprimidos pela avidez parental; que deseja obter a prestimosa liberdade.
as palavras que o vento me traz fundam-se na turbulência mundana: nos seus efeitos danosos sobre a alma das pessoas; na textura malvada que nos aflige quando deslocamos o eixo dos seus tópicos retrógrados.
escuto o arfar das espingardas no centro do mundo que rejeitei: nas famigeradas películas a que assisti; nas atitudes indecorosas da natureza humana; nas repulsivas mensagens das tiranias empunhando as suas conspurcadas bandeiras.
o meu universo é imune às desinteligências humanas e aos seus memoráveis excessos; aos seus tráfegos nocivos de impertinências e atrocidades; às suas declarações de escárnio e mal dizer.
realizo as minhas ambições na flama doirada da poesia; nos meandros da festa que eu próprio inventei e que desenrolo até penetrar a liberdade que respiro; que me faz retocar as arestas cortantes da minha solidão.
eu creio na raça humana e nas suas premonitórias asserções; nas suas reformas subtis que cruzam fronteiras para estancarem os procedimentos insalubres; na sua poesia que ameniza os tumultos excessivos.
amplifico as querelas para as poder ordenar de acordo com o seu vigor intrínseco: com os traumatismos que imprimiram na minha índole; com os sintomas desvairados que protelaram a minha razão; com os desenvolvimentos agrestes que produziram.
houve um tempo em que eu interpretei as danças frenéticas da paixão com galhardia; com desdém pelo juízo e com uma inocência polvilhada de tristeza; com o intuito de enlaçar um mundo desprovido de ternura.