O Arrependido

O ARREPENDIDO

Reconhecemo-nos mutuamente, por um mero acaso, numa das avenidas da Bela Vista, à porta do Restaurante Social da Cáritas de Setúbal, anexo à Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, onde os pobres e necessitados não são esquecidos.

Já lá vão muitos anos desde que partilhámos a mesma “casa”, embora com vivências bem diferentes: eu na direcção de uma instituição prisional, ele a cumprir pena por falsificação de moedas e tráfico de droga.

Irreal nudez coberta por futilidades

Visto-me de correntes que cercam toda a nudez que apresento.
Nudez esta que apenas o olho material vê, pois as correntes não são visíveis...
Fechando os olhos, abro o olhar cego ao mundo e vejo o que só o sentir pode ver!
As correntes ficam visíveis...
Sinto o meu corpo imóvel, preso pelos medos e angústias que o impedem de se mover...
Sinto a minha mente vazia, apagada pela ilusão de realidade que a impede de sonhar...
Sinto a minha alma cansada, sugada por crenças e preconceitos que livre a impedem de ser...
Estas são as correntes que visto!

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