ÀS TUAS CORES, TODOS OS MEUS PECADOS

Desrespeitosamente tomo teu corpo
Em contraponto, toda tua euforia resta, então, liberta 
Eclodem, nuas, todas as tuas cores
Os mais férteis e dominadores odores recaem sobre mim;
Tomo tua seiva, tomo o teu pecado
Teu beijo embebedante e desvairado
Licor que teu desejo, em doses vigorosas, me concede 
Até exaurir-se paulatinamente na minha boca.
 
Obedeço teus olhos
Outrora torporosamente viajantes em devaneios múltiplos
Porém paradoxalmente atentos e despóticos;
Olhos que se arregalam, espremem-se
Acendem, ordenam, e me conduzem
Às ferramentas com as quais teu corpo autoritário quer ser amado.
 
Argumentam em tons instintivamente poéticos
Exacerbadamente veementes na torrente que provocam;
A loucura te brota em desesperados quereres
Semeando a luz brilhante que nos renova;
Renasce, a cada ato, a cada coito eloquente
A cada partida e a cada retorno
Nos brados que me acarinham e me injuriam
À medida que minha face refestela-se pelas tuas vielas.
 
Densamente profusos são os arroubos
As descobertas e redescobertas, os mil sons enigmáticos
Despidos de todo e qualquer pudor
De toda verve moral e pudica
Meticulosamente apropriados ao meu avanço vagaroso.
 
Como a desavergonhada que sempre fostes
Contínua é a insana febre, a fogueira impiedosa da loba
A pujante energia que absorve o que quer
Que sente, saboreia, delicia-se e transmuta
Devolvendo-a magnetizada e banhada na pluralidade das emoções primitivamente femininas.
 
No curso da febre que descontrola e tortura
O pretérito não é passado
É nutriente de inspiração da fulgurante fantasia de hoje
Onde a amada perde a noção do tempo e do espaço
À medida que suas lacunas viscerais são detalhadamente preenchidas.
 
O teu pecado tem natureza selvagem e indômita
Correnteza que não pode ser contida 
Flor do sertão que brota proeminente ante ao calor do escaldante deserto
Bela por sua própria raridade
Reverberante por sua própria magnitude
Pois se a cama é a porta do céu
Teu corpo é o único caminho.
 
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