Á HUMANIDADE

Estrellas que rolaes no espaço ethereo
      N'um vertice de luz vertiginoso,
      E em numero sem conta e sem repouso,
      De Deus cumpris altissimo mysterio!

      E vós flôres gentis, purpureas rosas,
      Roxas violetas, candidas boninas,
      Que abris, tomando formas peregrinas,
      Á luz do Sol as petalas mimosas:

                  Commigo erguendo a vóz
                  Ao throno da Verdade,
                  Saudae a Humanidade,
                  Que é mãe de todos nós!

      Materno amor, que tanto admiro e acato,
      Perenne luz vital do Ser Supremo,
      Ante cujo esplendor confuso eu tremo,
      Se sondo o teu Santissimo mandato!

      Ou sejas tu mulher juncto do berço
      Com terno olhar velando o teu filhinho;
      Ou tu maviosa rola no teu ninho;
      Bemditas no concerto do Universo:

                  Por tão divinos bens,
                  No intimo do peito,
                  Votae sentido preito
                  Ao symbolo das mães!

      Mulheres que prestaes culto a Maria,
      Á virgem Mãe de Deus, cheia de graça,
      Doçura, vida e esperança onde se enlaça
      O vosso coração de noite e dia!

      E vós ingenuas multidões que hei visto
      Com ar tristonho, humilde e miserando,
      Nos templos de mãos postas adorando
      Por vossa padroeira a Mãe de Christo:

                  A Virgem que adoraes,
                  Tornou-se a precursora
                  Da mãe que surge agora
                  Aos olhos dos mortaes!

      A mãe que em vez dos tristes filhos d'Eva,
      Levanta aos ceus os filhos redemidos!
      Em cantigos transforma os seus gemidos!
      No Bem o mal, na doce luz a treva!

      A mãe que os filhos todos encaminha
      Ao Summo Bem, que traz no peito occulto;
      Erguei-lhe pois altar, prestae-lhe culto;
      Tem jus a que brandeis==Salvé Rainha==

                  «Bemdito sê nos ceus!»
                  «Bemdito sê na Terra!»
                  «Sacrario onde se encerra»
                  «O Espirito de Deus!»

      Oh povos que viveis sob a vigilia
      Do olhar supremo em toda a redondeza,
      Formando pelas leis da natureza
      E os vinculos moraes, uma familia:

      Sabei que cada qual, tendo-a comsigo,
      Trará como um clarão na consciencia,
      Um rutilo fanal, a Providencia
      Que o pode redimir na hora do perigo!

                  Interpretes de Lei
                  Divina, e para exemplo,
                  Em honra d'ella um templo
                  Na alma humana erguei!

      Estrellas, flôres, mães, sabios e crentes,
      Vós todos que formaes a eterna cahorte
      Dos bons, dos que perante a vida e a morte,
      De Deus esparsem raios resplendentes:

      Por preito á obra santa e redemptora,
      Que põe a Terra e os ceus em harmonia,
      Como alto solta alegre a cotovia
      A limpida canção á luz d'aurora:

                  Á minha unindo a vóz,
                  Cantemos creaturas,
                  Hossana nas alturas
                  Á Mãe de todos nós!

1897.
 

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