Á memoria da Ex.ma Sr. D. Maria Gertrudes Manuel da Cunha.

 

      Na hora melancolica,
      Do despedír do dia,
      Quando se escuta o cantico,
      Ou extranha melodia,
      Que na deveza languido
      Desprende o rouxinol;

      Quando desponta pallida
      No firmamento a lua,
      E que inda incerta e trémula,
      No mar azul fluctua
      Co'a viva cor da purpura
      A frouxa luz do sol!...

      Quem passe pelo tumulo
      Que encerra a virgem bella,
      Quebre o silencio tetrico
      A orar prece singela
      Por essa que a existencia
      Deixára inda em botão!

      Por ella!? ai, não! a supplica
      Ao nosso Deus erguida,
      Seja por quem, perdendo-a,
      Perdeu parte da vida,
      E que no mundo estatico
      A filha busca em vão!

      Ella este val de lagrimas
      Abandonou, subindo
      Ao ceo que lhe era patria!...
      Ella, feliz, sorrindo,
      Brilha no mundo ethereo
      Ao lado do Senhor!

      Por nós, oh, sombra angelica,
      Implora a Deus piedade!
      Anjo das azas candidas,
      Consola a saudade,
      D'aquelles que, adorando-te,
      Te viram morta em flor!

Outubro de 1852.
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