Á morte da Ex.ma Sr.a D. M. Henriqueta de Campos Valdez

 

      Bella, graciosa e timida,
      Na aurora da existencia
      Rosa de grata essencia
      Sorrias em botão!
      A luz do sol explendido
      Vinha inundar-te a frente,
      Suave e docemente
      Beijar-te a viração!

      Como os affectos intimos
      Da maternal ternura
      Enchiam de ventura,
      A tua vida em flor!
      E como a face candida
      Serena, reflectia
      A magica poesia
      D'ess'alma toda amor!

      Dos pensamentos lugubres,
      Das ambições da terra,
      Das maguas que ella encerra,
      Dos crimes que contém,
      Jámais a teu espirito
      Chegará o som profundo,
      Anjo descido ao mundo
      Só para amar o bem!

      Um dia, a immensa abobada,
      Azul e resplendente,
      Toldou-se de repente
      Ao sopro do tufão!
      Era o primeiro fremito,
      Nuncio da tempestade,
      Que vinha sem piedade
      Rosa, lançar-te ao chão.

      Ao ver abrir-se o tumulo
      Sorrias sem receio,
      E se a teus olhos veiu
      Funda expressão de dor,
      Foi quando a boca tremula
      Da mãe que te perdia,
      Á tua enfim se unia,
      Com mais profundo amor!

      Então, como ella, pallida,
      Soltando o extremo alento,
      Volveste num momento
      Á gloria perennal!
      E logo fria, gellida,
      Sem ter nem cor nem vida,
      Par'ceste adormecida,
      No seio maternal!

Setembro de 1856.
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