*Á POMBA QUE VOOU*

Foste-te, ó luz das solidões amenas!
Ó grandes olhos tristes, ideaes!
--Partiste, casta pomba d'alvas pennas,
Em procura dos lucidos pombaes!

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Tu estás hoje entre as hervas e as poeiras,
Ou cheia de celestes claridades!
Ó doce irmã das rolas companheiras!
Por ti ouço chorar as larangeiras!
E de luto vestirem as saudades!

Ah! quantas vezes, n'este mar d'escolhos,
Comtemplando o azul duro e sem fim...
E os pés ensanguentados nos abrolhos,
Eu nas estrellas creio vêr teus olhos
Que estão chorando lagrimas por mim!

Teu corpo está talvez, dilacerado
Entre as plantas escuras e as raizes!..
E, ah! que vezes talvez, n'um _ai_ cortado
Não me terá teu seio immaculado
Entre as hervas bradado--_Não me pizes_!

Por isso vou curvado para o chão
Com medo de pizar-vos, tranças bellas!
--E ah! quantos, como eu, tambem irão,
Correndo o mundo atraz d'uma illusão,
Ou soletrando as mysticas estrellas!

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Foste-te luz das solidões amenas!
Ó grandes olhos trístes divinaes!...
--Partiste, casta pomba d'alvas pennas
Em procura dos lucidos pombaes!

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