Ás portas do céu
Às portas do céu
Agora que morri...
E que choraste ...deixa-me ir...
e esquece o dia em que me encontraste
e agarraste a minha mão, calejada pela vida
a minha alma já não é alma...é apenas um suspiro
é apenas um sussurro, dito num silêncio absoluto
um silencio como quando dormes ...agora sem mim
E agora que cheguei ás portas do céu
Não encontrei nenhum rosto, dos que toda a vida recordei
São apenas desconhecidos, que inventei para não estar sozinho
...com quem converso...
Já não tenho alma... e o que sinto e vejo
Não tem significado...são os meus sentidos mortos
São os meus sentidos descalcificados...
O abandono da alma.. ás portas do céu
Não tem ninguém nem deus nem nada
Possivelmente por ter sido um céptico
Que nunca acreditou em nada,
senão no materialismo da vida
e no amor nutrido por pessoas reais
Alma moribunda, mundana e egoísta
Alma que se desvaneceu ás portas do céu
E sozinho ....entre estatuas de bronze e pedra
Polidas e reluzentes, mármores que choram lúcidos
E fotografias desbotadas pelo tempo
Agora que morri...
Falo de solidão ...Deus não existe...
Ou não existe, ou por não ter acreditado que existia
Agora que estou só ...tenho todo o tempo
Para pensar...e imaginar a poesia que vos poderia ter escrito
Uma metáfora demente...de alguém que está no céu
Mas nunca viu Deus
Nem ninguém dos que toda a vida recordei
Possivelmente ...foi esse o meu castigo
Por ter sido um céptico, que toda a vida olhou em redor
E nunca viu nada que fizesse sentido
Agora que estou as portas do céu
...apenas sei que morri
...E que já nada sinto...