Átropos, Minha Belladonna
I
Belladonna, minha dona bela!
Que em ti trazes o doce veneno
De uma trágica morte amarela.
(Salvação do meu viver pequeno...)
Tu, bela, que nas sombras moras
E quase sempre o sol evitas,
Deixa-me comer tuas amoras
Embriagar-me com as pepitas!
Anda ter comigo, ó Belladonna
Que o destino uniu-nos sem igual!
Não t'armes comigo em primadonna,
Quero a libertação deste mal!
Dilata-me as pupilas,
Que te eu quero ver melhor!
Amansa-me estes espasmos,
Deste persistir com dor...
Como te queriam os assírios
Quero-te avidamente agora eu
Afasta-me os pensamentos tristes
Leva para longe de mim o breu.
II
Ai Átropos, minha bela moura
Vem, funesta, meu fio vital ceifar
Traz contigo essa fatal tesoura
Vem, sinistra, meu óbito firmar!
Pois o fio de todo o amanhã,
Que tua irmã Cloto me cardou,
Era só de cânhamo e de lã:
Tornou-me o desgraçado que sou.
Já Laquesis tão antes o previra
Aquando o medir desta minha tira:
Que desaparecerei ao som da lira
Na brevidade com que um sopro expira.
Vós, todas três fatais irmãs moiras,
Do destino donas e senhoras,
Porque não me destes fitas loiras?
Porquê tão curtas as minhas horas?