Última janela de abril
Tenho em minha boca
O gosto da alma de teu corpo,
Em meus olhos,
A sede que tu atentas a olhar.
O hoje do daqui mil anos
Não é mais o mesmo.
Pegamos o futuro combalido fraco vacilante,
Deitamo-lo desmaiado na nossa cama “desnomeada” presente.
O universo fugiu do seu verso
Nada de além
Quando peles sentem gozos feito leite,
Feito nódoa derramada pelas plantas feridas na casca,
Com gosto de cheiro das flores de laranjeiras
Ampulhetadas no sereno branco da noiva manhã.
Dorso escombro em mola macia na anca contorcida
À caça do meu rebelde pensamento,
Põem-se teus vastos olhos a procurar-me aflitos.
Somente restaram-me as imagens do perfume ambarino
No meu ar egoísta.
O triste volta a incorporar nossos mares contrários
Com brisas confundidas.
Até quando cegamente reza afogada em céus
Num sopro gregoriano?
Ressuscita-a leve brilho de abril
Da última janela aberta
Da inopiosa vidraça pintada
Com muitos títulos deitados ao comum.