(3) Voando sobre um ninho de fadas

Sábado dia 23 de junho de 2018.

Acordo cansado, o meu colega de quarto ainda dorme, faço a minha higiene diária e tomo o pequeno almoço, o meu amigo F. fala comigo, as suas histórias acordam-me, começa mais um dia.

Caminho pelos corredores da unidade e volto a ser solicitado pela ansiedade de pessoas sem rumo. Pedem-me tabaco, café, dinheiro, palavras, gestos, mãos, abraços… passo a ala e isolo-me na sala de atividades, no Sábado costuma estar vazia, aproveito o silêncio.

Falo comigo.

Lembro-me do V. o meu colega de xadrez, que infelizmente é um utente de longa duração.  Alguns dias atrás, durante as comemorações do dia de Santo António aproveitou o momento de festa para por em prática um plano de fuga.

A sua inteligência e astucia permitiram ludibriar os funcionários da portaria. Ao longo de alguns meses amealhou duas centenas de euros. Assim, durante o dia festivo saiu pela porta principal, apanhou um táxi e decidiu libertar-se durante uma tarde e uma noite. Regressou por sua vontade na manhã do dia seguinte. Mandou parar o táxi junto da portaria e para espanto de todos entrou em grande estilo, a precisar de um banho mas sereno e de cabeça levantada.

Posteriormente, preocupado perguntei-lhe:

- V. então, o que se passou?

-  Passei uma noite memorável. Eles fizeram a sua festa e eu fiz a minha, não gosto de Santos Populares. Fui passear a Coimbra, comi e bebi.

- Realmente conseguiste ludibriar toda a gente, incluindo a polícia que andou toda a noite à tua procura. Eu imaginei que não te encontrassem, esperava que voltasses, mas estava preocupado. Bem vamos Jogar Xadrez.

- Vamos. (Cont.)

14:31

23/06/2017

MS

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