Abandono I
Sou o abandono, ode antiga
Sons que devoraram o meu lugar
Luzes que abarcaram uma cantiga
Porto naufragado sem ter mar.
Perdi o sorriso solto ao vento
Silêncio da voz que não chorei
Perdido no chão do meu tormento
Roda de emoção na qual me dei.
Voraz instante de abandono
Tua voz relembra o meu lamento
Leio-me em dúvidas que entono
Descanso no vão do pensamento.
Alma viva que o tempo acalmou
Bruma e sons que me desvaneceram
Saudade dessa história que passou
Letras que vencidas se perderam.
Sou o abandono, a cor escondida
Negra pedra que grita sem falar
Gente que de mim andas perdida
O abrigo frio que ousa sonhar.
Abandono em mim que te criaste
Envolto em sonhos que esqueci
Também tu do sonho abandonaste
Esta pedra em cinzas entregue a ti.
JMPereira