ALDEIA DE JOANES – LAR DE NOSSA SENHORA DO AMPARO

Na sequência de visita aos utentes do Lar de Nossa Senhora do Amparo, em Aldeia de Joanes, soubemos que ia decorrer a Eucaristia da Páscoa, no espaço dedicado às visitas, devidamente preparado para o acto religioso, no qual participaremos.

O espaço tem nas suas paredes quadros muito interessantes sobre as catorze estações da Via Sacra. A última, a décima quinta, está bem patente, na parte central: “ PÁSCOA – A VIDA VENCEU A MORTE.”

Antes da iniciação, encontrei um Engenheiro, conhecedor da minha Região Arraiana, onde fez projetos de pontes e obras públicas e privadas. Disse-lhe que nos anos da nossa existência também temos de continuar a fazer pontes, para não cairmos em precipícios, em abismos, em fundos difíceis de regressar.

Com as Leituras do Dia Litúrgico, o celebrante pronunciou algumas palavras, destacando que devemos fazer interrogações sobre a nossa verdadeira identidade e realçou o Amor que é o serviço dos outros.

Como Moisés ergueu a serpente, símbolo da cura nas doenças, temos de vencer as dores, o peso dos vários anos das nossas limitações.

O Assistente Religioso dos Lares agregados à Santa Casa da Misericórdia do Fundão, salientou que estas Pessoas Assistidas fazem parte da nossa Família comum. Enalteceu o trabalho das Funcionárias daquela Casa, com muito zelo e dedicação num serviço difícil. São as “cireneus” com coragem e energia, que acompanham os passos, mais ou menos lentos, das Pessoas fragilizadas.

No Refeitório da Instituição, deu-se um lanche partilhado, com a entrega de uma prenda reciclada, desejando “UMA PÁSCOA FELIZ.” Cantaram-se os Parabéns pelo 92º Aniversário de D. Maria Isabel Reis dos Santos. Um grupo de utentes cantadeiras entoou a Senhora do Amparo e temas da Quaresma.

Naquelas gentes, tantas árvores plantadas, tanta música e poesia cantada e escrita. Lembrei-me do poema de Eugénio de Andrade: “Há muitas que são velhas vestidas/de preto até à alma contra o muro/defendendo-se do Sol de pedra;/ao lume/furtam-se ao frio do mundo./Ninguém pergunta, ninguém responde./A língua, pedra também.” Quando visitei a Exposição Fotográfica, “Gentes da Beira”, na Biblioteca Municipal do Fundão, admirei tantos rostos de gentes a habitar nos nossos Lares.

Da poetisa e cantadeira, Esperança Maria Lambelho, no seu Livro “ ESPERANÇA – DE CORPO E ALMA,” edição de 2015, recolhi estes temas: “Que lindo dia que era/Quando a Páscoa chegava/A Família reunida/Que ali ninguém faltava./ Começam a chegar/Os meus irmãos já casados/Traziam os filhos com eles/Todos felizes e animados./Abraçávamo-nos uns aos outros/Boas-Festas, Boas-Festas!/Já Cristo Ressuscitara/Ó que boas novas estas/Minha Mãe recebia todos/C’o melhor que a casa dava/O bolo de azeite mais fino/Nunca na mesa faltava/Eu dava umas escapadelas/Para o sino badalar/Lá no alto do campanário/Todos tinham que tocar./Quando o séquito chegava/Para Jesus beijar/Ajoelhávamos em roda/Com a Fé a transbordar/Bem comidos e melhor bebidos/Para o ano haverá mais/Era dia de reunião/Na Casa dos nossos Pais”.

“Para quem vive sozinho/Não podia ser melhor/Vai-te embora solidão/Deixa-nos entrar o Sol./Ó solidão, solidão/Tu não vais entrar aqui/Entraram lindas cantigas/Anedotas sem ter fim./Dona Salomé benfeitora/Não podia ser esquecida/Pela oferta que deixou/lembrada será toda a vida./Já chegou o grande dia/Não vamos faltar com certeza/P´ra passarmos os nossos tempos/Com muito menos tristeza./Os idosos têm muito/ P´ra dar a quem pouco sabe/ Têm as recordações/Da sua tenra idade./Um bem-haja à Paróquia/E à Santa Casa que temos/À Junta de Freguesia/ E à Câmara agradecemos.”

Olhámos para os rostos e para as mãos, que tanto ajudaram monetária e musicalmente a Comunidade Paroquial: tantas tarefas voluntárias, no grupo coral, nas limpezas, em obras, paramentos…

À saída um painel anunciava: “ 500 ANOS A CUIDAR – SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DO FUNDÃO.” Junto à porta da entrada, há um quadro de madeira trabalhada, que convoca o poeta e artesão Mário Salvado: ”SEJA BEM-VINDO A ESTA INSTITUIÇÃO/DAR CARINHO AOS IDOSOS/PARA ALEGRAR O CORAÇÃO.”

Ao cair da noite, no Céu Azul, o Quarto Minguante (16% visível da Terra). Não há melhor ilustração para compreender a nossa caminhada terrena.

Género: 

Comentários

Mais um texto enibriante e cheio de sensibilidade.

Fernandes quero aqui as minhas memórias desportivas e eventualmente aquilo que nos uniu para sempre... a nossa estadia conjunta, tu saberás melhor do que eu o que contar.

Aquele Abraço.

Miguel