As Almas

Quantas almas em mim eu tive

Que poderiam dar-me as respostas

Almas maduras, velhas, novas

Todas elas me viraram costas

 

Foram vendidas à Santa Fé

Trocadas por um punhado de feijão

Malagueta, sangue, café

Tudo coisas sem religião

 

Viveram em mim uns anos

Depois cresceram e endoideceram

Partiram antes dos meus planos

Bateram asas, desapareceram...

 

Deixaram restos da sua ida

Como se algum dia fossem voltar

Deixaram a minha vontade despida

Sem razão para continuar

 

Um dia fizeram um aviso:

Iam voltar de repente!

Recebi-as com um sorriso

Deram-me sovas de presente

 

Riram-se de mim por eu acreditar

Que a multiplicidade me iria trazer

Felicidade, idade, um lar...

Coisas que a vida nos faz querer

 

Mas desiludiram-me outra vez

Outra vez e outra e outra

E eu caía na malvadez

Como uma estúpida barata tonta

 

O tempo voa e eu vou pensando

Em construir uma barreira

Para que elas vão andando

E me deixem aqui na esteira

 

As almas...

 

Elas que morram, como eu...

Que todos temos o mesmo fim.

(Nem sei bem o que me deu

Pra começar a escrever assim)

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