Alucinogênico
Autor: Inês Duarte on Tuesday, 8 July 2014
Dá-me um alucinogênico para fugir da realidade.
Quero entrar num mundo paralelo, onde haja felicidade.
Deixa-me percorrer as cidades que não existem.
Falar com pessoas que na minha mente subsistem.
Deixa-me fechar os olhos e voar.
Porque até sem asas, o céu torna-se fácil de alcançar.
Dá-me um alucinogênico urgentemente para acordar.
Creio que a vida só é vida depois de muito suar.
Entre delírios e gemidos, ouço o meu pai a gritar.
"É hoje que o velho me vai matar."
Começo a correr, a tropeçar, cair até parar.
A dilatação das pupilas é que me faz focar o olhar.
Ele aproxima-se com um pistola, pronto para disparar
Eu fecho os olhos para me defender,
Quando dou por mim já estou noutro lugar.
Ahhhh viagem infinita, deu glória ao meu ser.
Renasci dum lugar, que nem deus deve conhecer.
Tive sorte, o contrário também podia acontecer.
Percorri países que nunca pensei percorrer.
Falei com pessoas que jurei ver morrer.
Viagem duradoura pelo mundo desconhecido.
Dizem que tem perigo, mas o perigo só na realidade é que é digno.
Deixem-me imergir na realidade que criei.
Deixem-me dormir neste mundo onde ninguém é rei.
Alucinantes, deixem-me alucinar.
É madrugada mal passada, quero bazar deste lugar.
Estou num estado deplorável onde difícil é sobreviver.
vi a morte à minha frente comecei a correr.
Vi-a ao longe, deslizava sobre o asfalto.
Num fechar de olhos, ao meu lado: - mãos ao alto que é um assalto!
Vestida de preto, abraçou-me.
Tocou-me no braço e amarrou-me.
Levou-me para o cemitério.
Onde mortos levantados tentavam arrancar-me o cérebro.
Maldito alucinogênico, colocou-me num pesadelo assustador.
Entre cabeças e sangue eu corria e não sentia dor.
No esquadrão da morte, drogados esperavam no corredor.
"Por favor, tira-me deste lugar"
Implorava a deus para voltar.
Mas deus não me ouvia, possivelmente nem estava a gritar.
Aí maldita mente, que do corpo se libertou.
Entre choros e lamentos eu nem sei para onde vou.
Vi uma janela aberta, oportunidade para me salvar, decidi me atirar.
Tive sorte, caí do primeiro andar.
Fui cair num mar de sangue e por mais que tentasse nadar.
Com uma costela partida, mal conseguia respirar.
Perco as forças e me entrego, é o diabo que me quer levar.
Acho que a morte sempre me vai procurar.
Se não for hoje, um dia vai ser, basta esperar.
Ouço o som das sirenes, vejo vermelho no ar.
Um homem ao meu lado, a pedir para me acalmar.
"Eu tou calma, para onde estão a caminhar?"
"A menina deite-se, possivelmente ainda está a alucinar. "
Malditas palavras levaram à minha revolta.
Perguntei ao médico se queria uma ida ao paraíso, sem volta.
"O paraíso não existe, o que é que quer fazer?"
"Vou-lhe dar um sedativo, para a menina adormecer."
"Não quero sedativo, quero é que se vá foder, eu não estou a alucinar, se não estaria a morrer."
Viagem duradoura pelo mundo desconhecido.
Dizem que tem perigo, mas o perigo só na realidade é que é digno.
Deixem-me imergir na realidade que criei.
Deixem-me dormir neste mundo onde ninguém é rei.
Alucinantes, deixem-me alucinar.
É madrugada mal passada, quero bazar deste lugar.
Acordei sobre um manto branco, será o céu onde descanso?
Muito silêncio, tudo demasiado brando.
O céu não pode ser, deus não salva quem morre em pranto.
Sentia tudo andar à volta, a realidade intransigente.
Malvada hora em que os alucinogênicos saíram da mente.
Maldita sensação de ser indiferente.
Neste mundo de homem maus, que matam a sua gente.
Eu não queria acordar, queria adormecer para sempre.
Se a viagem for de borla, apanho a próxima urgentemente.
Mas estou num beco sem saída, na realidade do dia à dia.
O hospital está vazio, para onde foi a serventia?
Casa vazia, é aí onde começa a magia.
Procuro um papel pequeno com o nome "fantasia".
Seria de mim, eu estava a desfalecer?
Já nada sentia, a morte finalmente decidiu aparecer.
Sentei-me no chão, despedi-me do senhor.
Agradeci por tudo, foi o único que me deu amor.
Amor insuficiente para não cair na na escumalha do madrugador.
De repente..
Acordo, pouco me recordo, a cama vazia, não é o meu velório.
Sentimento satisfatório, de um pensamento aleatório.
Que me fez pensar estar com o demônio.
Mas estou no meu quarto cor-de-rosa, acordo com o toque do relógio.
7.30 da manhã, apresso-me como se fosse para um comboio.
O comboio não apanho, desta vez vou de autocarro.
A viagem pelo subconsciente saiu-me caro.
Afinal de tudo não passou de um sonho parvo
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