ANJO CAÍDO

 

      Na flor da vida, formosa,
      Ingenua, casta, innocente,
      Eras tu no mundo, rosa!
      Quem te arrojou de repente
      Para o abysmo fatal!
      Viste um dia o sol de abril;
      O teu seio virginal
      Sorriu alegre e gentil.

      Ergueu-se aos clarões suaves
      D'aquella doce alvorada
      A tua face encantada.
      Amaste o doce gorgeio
      Que desprendiam as aves,
      E no teu candido seio
      Quanto amor, quanta illusão
      Alegre pulava então!

      Mal haja o fatal destino,
      Maldita a sinistra mão,
      Que em teu calix purpurino
      Derramou fera e brutal
      Esse veneno fatal.

      Hoje és bella; mas teu rosto
      Que outr'ora alegre sorria,
      É todo melancolia!
      Hoje nem sol, nem estrella,
      Para ti brilha no ceo;
      Mal haja quem te perdeu!

Novembro de 1857.
Género: